Foto: Leo Lara/Arvore de Comunicação
Reconhecida como uma das mais importantes do Brasil, a Coleção de Ex-votos e Santos de Casa, sediada no Museu de Congonhas, em Minas Gerais, vai além da materialização da fé, e configura-se como testemunho histórico, antropológico e artístico dos séculos XVII a XX.
Abreviado da expressão latina ex-voto suscepto, que significa em consequência de um voto, as peças de ex-votos são objetos oferecidos em homenagem a uma graça alcançada. Ao longo do tempo, a corporificação física se deu por meio de diferentes materiais e formatos. Pinturas, tábuas de madeira, esculturas ou pendentes feitos em prata e latão expressaram a manifestação popular de devoção sendo o testemunho público da promessa e do milagre obtido.
Para um olhar além do aspecto religioso, as peças votivas representam um resgate antropológico cultural brasileiro, já que algumas obras revelam, junto com a imagem do favorecido, as características da vida da época, como mobiliários, ambientes domésticos e detalhes arquitetônicos, sendo uma das manifestações culturais que trata principalmente da história privada dos mais pobres.
Segundo a pesquisadora Clara de Andrade Alvim, a coleção possibilita estudos comparados no campo da história social ao registrar as crenças, temores, doenças, formas de produção, de circulação de riquezas, justamente aquele pertencente a extratos da população menos abordados pela documentação e pelos registros disponíveis.
Ela observa que, por meio dessa prática, os fiéis se relacionavam diretamente com o sobrenatural, dispensando a intermediação dos representantes da Igreja. Essa atitude pareceu durante muito tempo às autoridades eclesiásticas, o afastamento de uma desejável espiritualidade e a aproximação de atitudes profanas, como a do recurso à mágica em momentos de extrema necessidade. Por isso os ex-votos eram mantidos nas sacristias, adros e nas chamadas sala de milagres, construídas exatamente para abrigá-los afastados das áreas sagradas. Entretanto, destaca, que frequentemente esse abrigo era provisório e os ex-votos descartados para dar lugar aos novos, o que demonstra o pouco valor a eles atribuído.
Já os Santos de Casa, também confeccionados entre os séculos XVII e XX, apresentam diversidades nos materiais (madeira, marfim, prata, pedra, metal); técnicas (pintura, desenho, óleo, entalhe, etc); e origens, tendo peças oriundas do Sudeste, Nordeste e Sul, além de outros países da América Latina e Europa. As peças foram juntadas por Márcia de Moura Castro, ao longo de sua vida. Para o filho da colecionadora, Cláudio de Moura Castro, ao contrário do exuberante barroco das igrejas, os santos de casa – pequenos e modestos – tendem a ser mais ingênuos, mas nem por isto menos interessantes e expressivos. Segundo Cláudio, “os santos de casa falam mais da cultura e da estética do nosso povo. Eles fazem parte da intimidade da família”.
A morada de todo este acervo no Museu de Sítio não poderia estar melhor contextualizada tendo em vista que o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos pode ser considerado um ex-voto, sendo sua construção iniciada em 1957, pelo português Feliciano Mendes, em agradecimento pela cura de uma grave doença.
Os visitantes do Museu de Congonhas poderão conferir cerca de 340 peças tanto de Ex-Votos quanto de Santos de Casa, que eram da colecionadora Márcia de Moura Castro e foi adquirida pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) em 2011. Para o Instituto, a aquisição desta coleção trata-se de um processo de salvamento de bens culturais de importância única que, além de extremamente frágeis, são tão mais valiosos quando reunidos, porque assim são capazes de dar conta de sua complexa significação.
Museu de Congonhas
O Museu de Congonhas inaugurado em 15 de dezembro de 2015 tem como missão potencializar a percepção e a interpretação das múltiplas dimensões do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, sítio histórico que, desde 1985, tem o título de Patrimônio Cultural Mundial.
Por ter como principal temática um patrimônio mundial a céu aberto – o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos –, o Museu de Congonhas atua como museu de sítio, numa espécie de mediação entre o Santuário e o público. O objetivo da nova instituição é o de qualificar a experiência insubstituível de estar no lugar, intensificando os sentidos e a percepção, seja por meio de descrições, de interpretações ou de criação de condições favoráveis à fruição.
O Museu está instalado em um edifício de 3.452,30 m², construído ao lado do Santuário, a partir de um projeto do arquiteto Gustavo Penna, vencedor de concurso nacional, e contempla em três pavimentos sala de exposições, reserva técnica, biblioteca, auditório, ateliê, espaço educativo, cafeteria, anfiteatro ao ar livre e áreas administrativas.
Coleção Santos de Casa no Museu de Congonhas (MG)
Serviço:
Museu de Congonhas
Local: Alameda Cidade de Matosinhos de Portugal, s/n – Congonhas (MG)
Telefone: (31) 3731-3056
Funcionamento: terça a domingo, das 9h às 17h; e quartas, das 13h às 21h
Fonte original da notícia:
IPHAN
Nenhum comentário:
Postar um comentário