Tomógrafo, microscópio digital e termovisor serão aparelhos usados na Nossa Senhora da Boa Morte
Inaê Miranda/ Correio Popular
Foto: Elcio Alves/AAN
O restaurador Antonio Sarasá e Elizabete
Kajiya, do Instituto de Física Nuclear da USP, com o aparelho termovisor
no interior da capela
Entre os aparelhos utilizados estão tomógrafo, microscópio digital, termovisor e uma paleta automática. A restauradora-pesquisadora Elizabeth Kajiya, do Instituto de Física Nuclear da Universidade de São Paulo (USP) e do Grupo de Conservação e Restauro da Arquitetura e Sítios Históricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trabalha em parceria com o restaurador Antônio Sarasá, responsável pelo projeto da capela. Elizabeth explicou que será feito um levantamento constitutivo do material usado nas pinturas decorativas da capela. Em análise preliminar, já foi possível verificar que há períodos distintos de pintura e que sob uma das paredes do lado direito há um desenho.
Uma das técnicas que serão utilizadas é a análise de superfície, chamada imageamento. Os restauradores farão uma espécie de escaneamento da pintura sem precisar raspar a parede com o bisturi, como é feito na técnica convencional. “Com a luz infravermelha vamos tentar identificar as camadas internas, as técnicas artísticas utilizadas e, tendo todo esse levantamento, ver se houve intervenções de restauro e diferenciar as etapas.” Além da luz infravermelha, será usada luz ultravioleta, que vai avaliar a interação do material, as áreas de retoques antigos e recentes, e luz rasante, que vai mostrar as deformações, craquelamento e fissuras.
Além das paredes e murais da capela, a imagem de Nossa Senhora da Boa Morte, trazida da França, em 1907, e, aparentemente bem preservada, também será analisada pelos restauradores. Ela deverá ser submetida a um tomógrafo que vai avaliar o seu real estado de conservação. Depois da análise, os restauradores vão poder dizer o quanto a capela está danificada e se precisa ser restaurada. A coleta de dados deve levar 15 dias e a análise das informações deve ficar pronta em quatro meses. Com os dados em mãos, os pesquisadores irão definir se haverá necessidade de intervenção. As possibilidades são restaurar ou conservar como está. “O objetivo final não é a restauração, mas a preservação da história. O mais importante é deixar a história inteira”, afirmou Sarasá, restaurador responsável pelo projeto.
As primeiras intervenções, consideradas emergenciais, começaram a ser feitas na capela em 2009 e foram propostas pelo Instituto de Saúde Integrada (ISI). Elas incluíram a retirada de cupins, limpeza de calhas, reboco externo. Já o trabalho iniciado ontem é considerado a etapa artística. “Até então, foi utilizada a técnica do bisturi, descascando camada a camada até chegar à pintura original. É válida e permitida no processo de restauro, mas tem a desvantagem do tempo, que é maior, e da dificuldade de encontrar profissionais especializados”, afirmou Leide Mengatti, diretora-executiva do ISI. Segundo Reinaldo Masson, um dos restauradores, a expectativa é restaurar 70% da pintura original. O custo estimado do trabalho é de R$ 9 milhões e até agora tem contado com a doação de fiéis e da comunidade.
Riqueza histórica
A capela foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) em 1972 e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) em 1988. O altar-mór da capela, as duas pias de água benta e o piso do presbitério são em mármore de Carrara. As grades que cercam o altar principal foram construídas pela fundição Irmãos Bierrenbach. O frontispício da igreja é adornado por três estátuas artísticas de mármore simbolizando a fé, a esperança e a caridade.
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