A Igreja assinala no próximo domingo o
Pentecostes, solenidade em que se evoca a descida do Espírito Santo
sobre a primeira comunidade cristã, reunida em Jerusalém, de acordo com
a narrativa do livro bíblico dos Atos dos Apóstolos.
As palavras gregas “Pentekoste hemera”, que
significam “dia quinquagésimo”, foram adotadas na Igreja para designar o
Pentecostes, festa que decorre 50 dias após a Páscoa, encerrando o
denominado Tempo Pascal.
Os sete dons do Espírito Santo (Sabedoria,
Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus)
estão na origem do impulso missionário da Igreja desde o seu início e
relacionam-se com o sacramento da Confirmação (Crisma), que no domingo
encontra uma data muito apropriada para ser recebido.
O mais recente número da revista “Bíblica”,
editada pelos Franciscanos Capuchinhos, apresenta um dossier intitulado
“Creio no Espírito Santo”, onde é feito um tratamento dos símbolos
associados ao Pentecostes, com base no texto do Catecismo da Igreja
Católica (CIC).
É desse artigo, organizado pelo biblista Fr.
Lopes Morgado, OFM Cap., que extraímos a explicação sobre os símbolos
do Espírito Santo, representado nos paramentos litúrgicos pelo vermelho,
cor que remete para o fogo.
Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e Maria (Pentecostes) (István Dorffmeister)
Água
O simbolismo da água é significativo da ação do
Espírito Santo no Batismo, pois que, após a invocação do Espírito
Santo, ela torna-se o sinal sacramental eficaz do novo nascimento. Do
mesmo modo que a gestação do nosso primeiro nascimento se operou na
água, assim a água batismal significa realmente que o nosso nascimento
para a vida divina nos é dado no Espírito Santo.
Mas, «batizados num só Espírito», «a todos nos
foi dado beber de um único Espírito» (1 Cor 12, 13): portanto, o
Espírito é também pessoalmente a Agua viva que brota de Cristo
crucificado como da sua fonte, e jorra em nós para a vida eterna. (CIC
694)
Batismo de Cristo (Guido Reni)
Unção
O simbolismo da unção com óleo é também
significativo do Espírito Santo, a ponto de se tomar o seu sinónimo. Na
iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, que
justamente nas Igrejas Orientais se chama “Crismação”.
Mas, para lhe apreender toda a força, temos de
voltar à primeira unção realizada pelo Espírito Santo: a de Jesus.
Cristo (Messias em hebraico) significa ungido pelo Espírito de Deus.
Houve ungidos do Senhor na antiga Aliança, sobretudo o rei David. Mas
Jesus é o ungido de Deus de maneira única: a humanidade que o Filho
assume é totalmente «ungida pelo Espírito Santo».
Jesus é constituído «Cristo» pelo Espírito Santo.
A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo, que pelo anjo O
anuncia como Cristo aquando do seu nascimento e leva Simeão a ir ao
templo ver o Cristo do Senhor. É Ele que enche Cristo e cujo poder
emana de Cristo nos seus atos de cura e salvamento. Finalmente, é Ele
que ressuscita Jesus de entre os mortos.
Então, plenamente constituído «Cristo» na sua
humanidade vencedora da morte, Jesus difunde em profusão o Espírito
Santo, até que «os santos» constituam, na sua união à humanidade do
Filho de Deus, o «homem adulto à medida completa da plenitude de
Cristo» (Ef 4,13), “o Cristo total”, para empregar a expressão de Santo
Agostinho. (CIC 695)
Fogo
Enquanto a água significava o nascimento e a
fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia
transformadora dos atos do Espírito Santo.
O profeta Elias, que «apareceu como um fogo e
cuja palavra queimava como um facho ardente» (Sir 48,1), pela sua
oração faz descer o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo,
figura do fogo do Espírito Santo, que transforma aquilo em que toca.
João Batista, que «irá à frente do Senhor com o
espírito e a força de Elias» (Lc 1,17), anuncia Cristo como Aquele que
«há de batizar no Espírito Santo e no fogo» (Lc 3,16), aquele Espírito
do qual Jesus dirá: «Eu vim lançar fogo sobre a terra e só quero que
ele se tenha ateado!» (Lc 12,49).
Descida do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos (Duccio)
É sob a forma de línguas, «uma espécie de línguas
de fogo», que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã de
Pentecostes e os enche de Si. A tradição espiritual reterá este
simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito
Santo. «Não apagueis o Espírito!» (1 Ts 5,19). (CIC 696).
Nuvem e luz
Estes dois símbolos são inseparáveis nas
manifestações do Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo
Testamento, a nuvem, umas vezes escura, outras luminosa, revela o Deus
vivo e salvador, velando a transcendência da sua glória: a Moisés no
monte Sinai, na tenda da reunião e durante a marcha pelo deserto; a
Salomão, aquando da dedicação do templo.
Ora estas figuras são realizadas por Cristo no
Espírito Santo. É Ele que desce sobre a Virgem Maria e a cobre «com a
sua sombra», para que conceba e dê à luz Jesus (CIC 37).
Descida do Espírito Santo (Andrea da Firenze)
No monte da transfiguração, é Ele que «sobrevém
na nuvem que cobriu da sua sombra» Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e
João, nuvem da qual se fez ouvir uma voz que dizia: “Este é o meu
Filho, o meu Eleito, escutai-O!”» (Lc 9,35). E, enfim, a mesma nuvem
que «esconde Jesus aos olhos» dos discípulos no dia da Ascensão e que O
revelará como Filho do Homem na sua glória, no dia da sua vinda. (CIC
697)
Selo
É um símbolo próximo do da unção. Com efeito, foi
a Cristo que «Deus marcou com o seu selo» (Jo 6,27) e «é n'Ele que o
Pai nos marca também com o seu selo».
Porque indica o efeito indelével da unção do
Espírito Santo nos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem, a
imagem do selo foi utilizada em certas tradições teológicas para
exprimir o «caráter» indelével, impresso por estes três sacramentos,
que não podem ser repetidos. (CIC 698)
Anunciação a Maria (Fra Filippo Lippi)
Mão
É pela imposição das mãos que Jesus cura os
doentes e abençoa as crianças. O mesmo farão os Apóstolos, em seu nome.
Ainda mais: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito
Santo é dado.
A Epístola aos Hebreus coloca a imposição das
mãos no número dos «artigos fundamentais» do seu ensino. Este sinal da
efusão omnipotente do Espírito Santo, guarda-o a Igreja nas suas
epicleses sacramentais. (CIC 699)
Dedo
«É pelo dedo de Deus que Jesus expulsa os
demónios.» Se a Lei de Deus foi escrita em tábuas de pedra «pelo dedo
de Deus» (Ex 31,18), a «carta de Cristo», entregue ao cuidado dos
Apóstolos, «é escrita com o Espírito de Deus vivo: não em placas de
pedra, mas em placas que são corações de carne» (2 Cor 3,3).
Corrado Giaquinto
O hino “Veni Creator Spiritus” invoca o Espírito Santo como – “Dedo da mão direita do Pai”. (CIC 700)
Pomba
No final do dilúvio (cujo simbolismo tem a ver
com o Batismo), a pomba solta por Noé regressa com um ramo verde de
oliveira no bico, sinal de que a terra é outra vez habitável.
Quando Cristo sobe das águas do seu batismo, o
Espírito Santo, sob a forma duma pomba, desce e paira sobre Ele. O
Espírito desce e repousa no coração purificado dos batizados.
Em certas igrejas, a sagrada Reserva eucarística é
conservada num relicário metálico em forma de pomba (o columbarium)
suspenso sobre o altar.
O símbolo da pomba para significar o Espírito Santo é tradicional na iconografia cristã. (CIC 701)
Fr. Lopes Morgado, OFM Cap (símbolos do Espírito Santo, org.)
In Bíblica, abril-maio 2013
SNP Cultura
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