Vista do Pátio do Colégio em 1887. A fonte, em primeiro plano, foi demolida em 1932/Militão/Acervo Digital da Prefeitura de São Paulo
É difícil hoje imaginar que a metrópole de São Paulo já foi uma pequena vila. Piratininga, como era chamada, foi fundada pelos portugueses que, a partir da região em que hoje é Santos, abriram caminho serra acima até o planalto.
O marco inicial do surgimento da cidade foi o Pátio do Colégio, construído pelos Jesuítas no topo de uma colina e inaugurado em 1554. Hoje, é atração turística e pode ser visitado, mas o que conhecemos dele é uma réplica da construção original.
Os Jesuítas foram expulsos de São Paulo em duas ocasiões. A primeira, em 1640, por defenderem a liberdade dos índios, e a segunda em 1760, após serem acusados de conspirar contra o rei de Portugal. Isso fez com que o Pátio do Colégio fosse entregue à Coroa Portuguesa, que instalou ali o governo de São Paulo, permanecendo no local até 1912. Essa mudança fez com que a fachada do conjunto fosse reformada.
A Igreja do Bom Jesus, parte do conjunto do Pátio do Colégio, não foi alterada pelas reformas, mas foi interditada em 1891, pelas más condições de suas estruturas. A demolição do prédio foi autorizada e concluída em 1896, depois do desabamento do teto durante uma tempestade.
No ano de 1954, quando era comemorado o IV Centenário de São Paulo, o prédio do Pátio do Colégio foi demolido, e o terreno, cedido aos Jesuítas novamente, que iniciaram um projeto de reconstrução do edifício do colégio e, em 1976, da Igreja do Bom Jesus.
RECONSTRUINDO O PASSADO
A reconstrução as estruturas do Pátio do Colégio despertou uma polêmica. Os apoiadores do projeto discutiam a importância do local como um monumento histórico da fundação da cidade, assim como da manifestação religiosa católica.
Na época houve a oposição do Condephaat, baseada no argumento de que nenhuma réplica ou simulacro teria o valor histórico da obra original. Na visão do órgão, a reconstrução do pátio, além de causar danos irreversíveis ao patrimônio, também constituiria um “falso histórico”, conceito que surgiu na virada dos Séculos 19 e 20 e retomado no livro “Teoria da Restauração”, do arquiteto italiano Cesare Brandi.
O chamado “falso histórico” ocorre quando são realizadas intervenções, reformas ou reconstruções que apaguem traços característicos de um patrimônio.
Em 1975, o Condephaat solicitou o tombamento do local como sítio arqueológico, devido à presença de dois elementos originais de sua fundação: uma parede de taipa de pilão e a fundação de pedra da antiga igreja, ambos tombados pelo Conpresp em 2015.
Dois anos depois, em 1977, o Condephaat publicou um segundo parecer, no qual afirmava que nenhuma reconstrução ou réplica deveria ser sobreposta à obra original, tirando dela o seu valor histórico. Apesar do parecer técnico, o projeto de reconstrução foi executado.
No entanto, é possível pensar em reconstrução sem cair no “falso histórico”. É o caso da Igreja de São Luis de Tolosa, no município de São Luiz do Paraitinga (São Paulo), que foi derrubada por uma enchente em 2010.
Com a supervisão do Iphan a igreja foi completamente reconstruída, aproveitando os remanescentes da antiga construção. As diferenças são perceptíveis, o que impede que quem a visite incorra em uma falsa leitura histórica do que está vendo.
PARTIDO OPOSTO
Um exemplo de partido de restauro oposto é o da Catedral de Coventry, no Reino Unido, destruída pelo exército nazista durante a Segunda Guerra Mundial entre 1940 e 1941. A proposta de restauro, escolhida em um concurso, foi a de preservar as ruínas originais da catedral e do altar. Ao lado das ruínas, uma nova igreja, moderna, integra-se ao que havia sobrado da antiga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário