do Fratres in Unum
Renúncia não é regresso à vida privada.
Cidade do Vaticano, 27 fev 2013 (Ecclesia)
— Bento XVI concedeu hoje a última audiência pública do seu
pontificado, que se conclui esta quinta-feira, e explicou que a sua
renúncia se aplica ao “exercício ativo do ministério” do Papa, sem
implicar um regresso à “privacidade”. “Não regresso à vida privada, a
uma vida de viagens, encontros, receções, conferências, etc. Não
abandono a cruz, mas fico de uma forma nova junto do Senhor crucificado;
deixo de levar a potestade do ofício para o governo da Igreja, mas no
serviço da oração permaneço, por assim dizer, no recinto de São Pedro”,
declarou, na sua catequese em italiano, perante mais de 150 mil pessoas,
segundo estimativas do Vaticano. Segundo Bento XVI, “amar a Igreja
significa ter a coragem de fazer escolhas difíceis, sofridas, tendo
sempre diante de si o bem da Igreja e não a si próprio”. “Quem assume o
ministério petrino já não tem qualquer privacidade ['privacy' no
original]. Pertence sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja, na sua
vida é totalmente cortada a dimensão privada”, precisou. Agradecendo a
presença “tão numerosa” de fiéis nesta audiência semanal, que ao longo
dos anos do pontificado reuniu 5,1 milhões de pessoas, o Papa declarou
recolher “tudo e todos na oração” para os confiar a Deus. “Neste
momento, há em mim uma grande confiança, porque sei, sabemos todos nós,
que a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, a sua vida”,
prosseguiu, ao som das palmas dos presentes, agradecendo o dia de sol
numa “manhã de inverno”. Bento XVI recordou o momento da sua eleição, a
19 de abril de 2005, e falou da “presença” de Deus que sentiu todos os
dias neste ministério. “Foi uma parte do caminho da Igreja que teve
momentos de alegria e de luz, mas também momentos nada fáceis”,
confessou. “Houve momentos em que as águas estavam agitadas e o vento
contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir,
mas sempre soube que nessa barca está o Senhor e sempre soube que a
barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é sua e a não deixa
afundar”, acrescentou. O Papa declarou que não se sentiu “só” ao longo
dos anos em que viveu a “alegria e o peso” do pontificado, deixando
palavras de agradecimento aos cardeais, pela sua “amizade”, aos seus
colaboradores, à Diocese de Roma e ao “mundo inteiro”. “Gostaria de
agradecer do fundo do coração às várias pessoas de todo o mundo que nas
últimas semanas me enviaram sinais comoventes de atenção, de amizade e
de oração. Sim, o Papa nunca está só, experimento-o agora de novo de um
modo tão grande que toca o coração”, revelou. O Papa falou das cartas
das “pessoas simples” que lhe escrevem como “irmãos e irmãs ou filhos e
filhas”, porque a Igreja não é “uma organização”, uma “associação para
fins religiosos ou humanitários, mas um corpo vivo”. “Deus guia a sua
Igreja, levanta-a sempre, também e sobretudo nos momentos difíceis. Não
percamos nunca esta visão da fé, que é a única verdadeira visão do
caminho da Igreja e do mundo”, concluiu. Bento XVI apresentou a sua
renúncia no último dia 11, com efeitos a partir de quinta-feira, por
causa da sua “idade avançada”, abrindo caminho à eleição do seu
sucessor. A última renúncia de um Papa tinha acontecido há quase 600
anos, com a abdicação de Gregório XII. OC
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