Testemunhos literários e prova arqueológica
Mons. Vitaliano Mattioli*
CRATO, (ZENIT.org)
A festa de S. Pedro nos coloca uma questão: Pedro morou em Roma, foi enterrado em Roma?
Resolver essa pergunta é importante porque este “morrer de Pedro em
Roma e ser enterrado em Roma”, capital do Império Romano, sempre foi
interpretado pela Igreja como uma vontade implícita de Cristo, fundador da Igreja, que o Bispo de Roma deve ser considerado o
sucessor de Pedro e o seu Vigário na terra.
Temos testemunhos literários que confirmam tudo isso:
1- A carta do Papa Clemente de Roma aos Coríntios (ano 96). Falando da perseguição de Nero, ano 64, escreve: "Lancemos
os olhos sobre os excelentes apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe
era devida... A esses homens ... juntou-se grande multidão de eleitos
que, em consequência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas,
deixando entre nós magnífico exemplo" (5,3-7; 6,1).
2- Ireneu (140-203), Bispo de Lião-França, escreveu uma obra
importante “Contra as Heresias”. Nesta nos confirma a chegada de Pedro a
Roma: “À maior e mais antiga e conhecida por todos, à Igreja fundada e
constituída em Roma, pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e
Paulo” (III, 3, 2); “Os bem-aventurados apóstolos que fundaram e
edificaram a Igreja romana transmitiram o governo episcopal a Lino”
(III, 3, 3).
3- Tertuliano (160-250), no escrito “Sobre o Batimo”: Não há nenhuma
diferença entre aqueles que João batizou no Jordão e aqueles que Pedro
batizou no Tibre” (IV, 3). O Tibre é o rio que atravessa Roma; de tal
forma que Tertuliano confirma a presença de Pedro em Roma.
4- Eusébio de Cesaréia (260-340), na sua “História Eclesiástica": “O apostolo Pedro na Judéia, empreendeu uma longa viagem além-mar... para o Ocidente, veio para
Roma” (História , II, 14, 4-5). “Nero foi também o primeiro de todos
os inimigos de Deus, que teve a presunção de matar os apóstolos. Com
efeito conta-se que sob o seu reinado Paulo foi decapitado em Roma. E
ali igualmente Pedro foi crucificado. Confirmam tal asserção os nomes de Pedro e de Paulo, até hoje atribuidos aos cemitérios da cidade” (História, II, 25, 5).
5- Ainda Eusébio refere o testemunho do Presbítero Gaio (ano 199) que viveu durante o pontificado do Papa
Zefirino (199-217), no seu escrito contra Proclo, chefe da seita dos
Montanistas: "Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de São
Filipe. Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja
local. Vai à via Óstia e lá encontrareis o troféu de Paulo; vai ao
Vaticano e lá vereis o troféu de Pedro" (História, II, 25, 6).
6- O mesmo Eusébio nos refere outros testemunhos. No livro II refere o testemunho de Dionísio bispo de Corinto (ano 170): "Tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina evangélica. A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio na mesma ocasião" (História, II,25,8).
7- Orígenes, (185-253), na obra Comentários ao Gênesis, terceiro livro (conservado na História de Eusébio, III,1, 2): "Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo, conforme ele mesmo desejara sofrer".
Além desses testemunhos, foram encontrados e decifrados grafites
anônimos dos séculos II e III escritos sobre o túmulo de São Pedro
localizado durante as escavações arqueológicas realizada debaixo da
Basílica do Vaticano nas décadas de 50 e 60 (do séc. XX) que confirmam a
sepultura do Apóstolo Pedro em Roma: "Pedro está aqui." (=Petros Eni) ,
"Pedro, pede a Cristo Jesus pelas almas dos santos cristãos sepultados
junto do teu corpo", "Salve, Apóstolo!", "Cristo e Pedro" , "Viva em
Cristo e em Pedro", "Vitória a Cristo, a Maria e a Pedro".
Em 1953 foi achado um antigo túmulo hebraico com a inscrição “Simão filho de Jonas”.
Provas arqueológicas.
Em 1939, o Papa Pio XII iniciou uma série de escavações debaixo da
basílica de São Pedro. Nessas buscas descobriu-se, entre outros restos, o
que se julga ser o túmulo de São Pedro. A descoberta foi anunciada
pelo Papa Pio XII no Ano Santo, Radiomensagem de natal, 23 de dezembro de 1950:
"As escavações debaixo da Confissão mesma, pelo menos
enquanto se relacionam com a tumba do Apóstolo ... e seu exame
científico, foram, durante este Ano jubilar, concluídas muito bem. Este
resultado foi de suma riqueza e importância. Mas a questão essencial é
esta: A tumba de São Pedro foi realmente achada? A tal pergunta a
conclusão final dos trabalhos e dos estudos responde com um claríssimo
Sim. A tumba do Príncipe dos Apóstolos foi encontrada. Uma segunda
questão, subordinada à primeira, diz respeito às relíquias do Santo.
Estas já foram descobertas? Na beira do túmulo foram encontrados restos
de ossos humanos, que no entanto não é possível provar com certeza que
pertencem aos restos mortais do Apóstolo. Isto deixa, portanto, intacta a
realidade histórica da tumba. A cúpula gigantesca foi erguida
justamente sobre o sepulcro do primeiro Bispo de Roma, do primeiro Papa;
sepulcro originalmente muito humilde, mas sobre o qual a veneração dos
séculos posteriores com maravilhosa sucessão de obras ergueu o maior
templo do Cristandade".
Paulo VI continuou as escavações. A resposta positiva a apresentou na
Audiência Geral da Quarta-feira, 26 de junho de 1968: “Uma segunda
questão, subordinada à primeira, diz respeito às relíquias do Santo.
Elas foram encontradas? A resposta então dada pelo venerável Pontífice
foi duvidosa. Novas investigações pacientíssimas e precisas foram feitas
mais tarde com resultados que Nós, confortados pelo juízo de prudentes e
valiosas pessoas competentes, acreditamos que seja positivo: também as
relíquias de São Pedro foram identificadas... Temos razão para acreditar
que foram encontrados os poucos, mas sacrosantos restos mortais do
Príncipe dos Apóstolos, de Simão, filho de Jonas, do Pescador chamado
Pedro por Cristo, daquele que foi eleito pelo Senhor como fundamento da
sua Igreja, e ao qual o Senhor confiou as chaves supremas do seu reino,
com a missão de apascentar e de reunir o seu rebanho, a humanidade
redimida, até a sua última vinda gloriosa".
Os estudos continuaram. O mesmo Paulo VI, na Audiência Geral da
quarta-feira, 28 de junho de 1978, voltou ao assunto: “Sim, a prova
histórica, não somente da tumba, mas também dos seus veneradíssimos
restos mortais, foi encontrada. Pedro está aqui, onde a análise
documentária, arqueológica, cheia de indícios e lógica finalmente nos
indica... Nós temos assim o consolo de ter um contato direto com a fonte
da tradição apostólica romana mais segura, aquela que nos garante a
presença física do Chefe do Colégio dos primeiros discípulos de Jesus
Cristo em Roma”.
* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou
estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na
Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e
Redator da revista "Palestra del Clero". Atualmente é missionário Fidei
Donum na diocese de Crato, no Brasil.
(Tradução Thácio Siqueira)
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