sábado, 11 de novembro de 2023

Polícia Federal faz perícia no Museu de Arte Sacra, em Ouro Preto, onde foi furtado um rosário do século 19

"Teremos que fazer cofres em vez de museus para trancafiar a história", diz, indignado, o diretor do museu.

O relicário em ouro, do século 19, ficava preso originalmente na ponta de uma cruz

crédito: Prefitura de Ouro Preto/Divulgação

Equipe da Polícia Federal faz perícia, na manhã deste sábado (11/11), no Museu de Arte Sacra de Ouro Preto, vinculado à Paróquia Nossa Senhora do Pilar, no Centro Histórico, onde foi furtado um rosário do século 19. O crime no templo tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ocorreu na sexta-feira (10/11), às 13h18, sendo praticado, conforme registro das câmeras de segurança, por três pessoas. No local, estiveram, nesta sexta, as polícias Militar e Civil.

Desolado com a situação, o diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto e membro da Comissão de Bens Culturais da Arquidiocese de Mariana, Carlos José Aparecido de Oliveira, falou com exclusividade ao Estado de Minas. “Mais uma vez, o Pilar é saqueado. Nossa posição é de desencanto, pois fazemos o trabalho com paixão e sofremos muito, quando isso ocorre. Parece que, em vez de museus, teremos que fazer cofres para trancafiar a história.”






O diretor mantém a esperança de o relicário ser encontrado. “Espero que tudo se resolva, mas é uma sensação muito ruim. Penso que o padre Simões (o pároco José Feliciano da Costa Simões - 1931-2009) sofreu o mesmo em 1973. Ver parte do acervo furtado, algo que está exposto para toda a popular ver, traz o desencanto. Este museu recebe muita gente, muitos jovens, sempre ficamos felizes em ver tanta gente visitando o Pilar, no sentido de valorizar o conhecimento e fortalecer a identidade e a nação. Infelizmente, três pessoas acabam com isso”, lamentou Carlos José, mais conhecido por Caju.

O furto no bem tombado ocorre no ano em que é lembrado o cinquentenário da invasão e do furto do museu localizado no subsolo da igreja barroca, um dos ícones da primeira cidade brasileira (1980) reconhecida como Patrimônio Mundial. Na madrugada de 2 de setembro de 1973, ladrões levaram 17 peças sacras, incluindo uma coleção formada por custódia e três cálices de prata folheados a ouro, de origem portuguesa, usados no Triunfo Eucarístico, em 1733, a maior festa religiosa do Brasil colonial. Os objetos de fé continuam sendo procurados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), e se encontram entre os bens cadastrados na plataforma virtual Somdar (somdar@mpmg.mg.br). Passados 50 anos, não há, até hoje, pistas das peças levadas pelos ladrões.

Inventário

Conforme o inventário (de 1984) da peça existente na Paróquia Nossa Senhora do Pilar, o relicário em ouro, do século 19, ficava preso originalmente na ponta de uma cruz. Eis a descrição: “Rosário de contas escuras de uma rocha não identificada, com as contas do ‘Pai Nosso’ em ouro, de decoração em corda nas extremidades e um aro de flores e folhas contornando o centro. A cruz é em ouro, tem espessura triangular decorada com folhas estilizadas. O Cristo é também em ouro; acima dele há a inscrição INRI em uma superfície convexa com a base em duas pontas enroladas. As pontas da cruz são formadas por três triângulos superpostos”.

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