segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Catarina Paraguaçu e a Igreja da Graça

Catarina Álvares Paraguaçu (Bahia,  1503 – Bahia, 26 de janeiro de 1583) foi uma indígena tupinambá, da região onde hoje é o estado da Bahia. Foi batizada em 30 de julho de 1528, em Saint-Malo, na França. Segundo a certidão, atualmente localizada no Canadá, o seu nome verdadeiro seria "Guaibimpará" e não "Paraguaçu" (nome que significa "mar grande"), como registra frei Santa Rita Durão em seu poema Caramuru. É a mais célebre mulher indígena do período, sendo apresentada por alguns como "uma das mães do povo brasileiro".

Catarina Paraguaçu teria sido oferecida por seu pai, o cacique Taparica, como esposa ao náufrago português Diogo Álvares, o Caramuru, que gozava de grande proeminência entre os tupinambás da Bahia. Faleceu em idade avançada no ano de 1583 e elaborou testamento existente até hoje no Mosteiro de São Bento da Bahia, no qual deixa seus bens para os monges beneditinos. Os seus restos mortais repousam na Igreja e Abadia de Nossa Senhora da Graça, em Salvador.

Uma imagem de Catarina Paraguaçu se encontra aos pés do Caboclo do Dois de Julho, monumento localizado na praça do Campo Grande no centro de Salvador.

Segundo uma lenda, Catarina teria tido sonhos frequentes com náufragos, sofrendo com fome e frio, entre eles, uma mulher com uma criança nos braços. Confiando no caráter místico dos sonhos da esposa, Caramuru teria mandado que procurassem pela orla, até que foram encontrados vários náufragos, mas entre eles não havia nenhuma mulher. Catarina sonhou novamente com a mesma mulher e ela teria lhe pedido que construíssem uma casa para ela na sua aldeia. Em pouco tempo foi encontrada uma imagem da Virgem Maria com o menino Jesus nos braços, que esta localizada no altar da Igreja da Graça.


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A Igreja e Abadia de Nossa Senhora da Graça está localizada no município de Salvador, no estado da Bahia. Sua construção atual data do século XVI e é tombada pelo IPHAN, incluindo também o seu acervo.

A igreja e abadia foi erguida no local onde existia uma ermida rudimentar mandada erigir pela devoção da índia Catarina Paraguaçu, mulher do português Diogo Álvares, o Caramuru, em 1535, no antigo povoamento denominado Vila Velha, hoje bairro da Graça, em Salvador, Bahia. Catarina teria tido visões na qual a Virgem Maria pedia que fosse construída ali uma capela. Alegam alguns ser esta a mais antiga igreja do Brasil, embora, de acordo com o IPHAN, o templo católico mais antigo do país seja a Igreja dos Santos Cosme e Damião em Igarassu, Pernambuco.

A edificação atual, sob planta do frei Gregório de Magalhães, foi erguida em 1645, em alvenaria de pedra e tijolo. O conjunto arquitetônico que se desenvolve em torno de um claustro, ocupando a igreja um dos seus lados, possui dois pavimentos. Segue um padrão comum aos mosteiros beneditinos do Brasil, separando a vida comunal da vida íntima. A igreja sofreu grandes obras em 1770, quando é ampliada a nave e executada nova fachada barroca, permanecendo contudo a torre na sua feição primitiva, com terminação em meia laranja, reminiscência da técnica moçárabe. De nave única e capela-mor alongada, a igreja possui ainda uma arcada na ala esquerda, hoje fechada, que indica a existência de um avarandado tipicamente seiscentista. Na igreja, está sepultada Catarina Paraguaçu.

É conhecida também como Igreja e Mosteiro da Graça, e está sob a guarda dos monges beneditinos da Bahia."O sonho de Catarina Paraguaçu" (Manuel Lopes Rodrigues, 1871). Igreja da Graça, Salvador.
Acervo

No altar-mor da igreja encontra-se uma imagem de Nossa Senhora encontrada em uma nau naufragada por volta de 1530/ 1535, possivelmente a nau Madre de Dios. Segundo relato do padre jesuíta Simão de Vasconcellos em "Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil", escrito em 1663, Catarina Paraguaçu teve uma visão de uma mulher que viajava em uma nau castelhana quando esta foi naufragada. A mulher informou à Catarina Paraguaçu que estava entre os índios e pediu que fosse buscá-la. Caramuru para atender à sua esposa, iniciou a procura e encontrou entre os índios a imagem de Nossa Senhora. Quando a levou para Catarina Paraguaçu, esta a reconheceu como a mulher de sua visão. Em 1921, essa imagem foi modificada por Pedro Ferreira, escultor do Recôncavo Baiano, que pela falta de formação em restauro, acabou descaracterizando-a. Além desta, encontra-se também na igreja a imagem de N.S. do Parto. Estima-se que ela seja do século XVII.

Também faz parte do acervo a tela "O Sonho de Paraguaçu" do pintor Manoel Lopes Rodrigues.

Existem também outras duas telas de autores desconhecidos, uma retratando a visita votiva do Senado à Igreja em 1765 e outra apresentando momentos da vida de Diogo Correia.

Entre os mobiliários do acervo, está uma cadeira do século XVII.

O testamento de Catarina Paraguaçu também se encontra nesta igreja



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