Entre as peças do acervo estão 181 imagens sacras nacionais e europeias dos séculos 17 a 19. Crédito da foto: Divulgação
Sem perspectiva de ganhar uma nova sede, o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Sorocaba Comendador Luiz Almeida Marins (Madas-Lam) — cujas peças estão abrigadas no piso superior da Catedral Metropolitana de Sorocaba — será transformado em reserva técnica, como é chamado o espaço onde se abrigam os objetos de acervo museológico que não estão expostos. Na prática, a medida oficializa a extinção do museu fundado em 1975, cuja última exposição permanente aberta ao público ocorreu há 15 anos. O arcebispo metropolitano de Sorocaba, dom Julio Endi Akamine, diz que o atual espaço é inadequado para funcionar como museu, já que não oferece condições de acessibilidade e circulação dos visitantes. Uma nova sede para o Madas — que ano passado chegou a ser anunciada como parte do complexo arquitetônico da futura Igreja de São Pio de Pietrelcina, no Parque Campolim — não será mais construída.
Segundo o arcebispo, a orientação atual é a de que, em vez de limitar as exposições a um único espaço, o novo plano de ação é para ampliar o alcance do acervo por meio de exposições em vários espaços da cidade, como igrejas. “O plano de ação prevê que a parte superior da Catedral seja uma espécie de reserva técnica para a guarda do acervo e que vários espaços possam ser utilizados para exposições”, diz.
Peças estão acomodadas no andar superior da Catedral. Crédito da foto: Divulgação
Uma nova sede para o museu, no Campolim, chegou a ser anunciada em maio de 2017 pelo padre Wilson Roberto Silva, da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, durante o processo de venda e demolição da antiga capela da Comunidade Sagrada Família, na Vila Jardini. Até então, o imóvel era cogitado para abrigar a sede definitiva do Madas-Lam. Com a negociação do terreno da antiga capela, foi adquirida uma área com total de três mil metros quadrados situada na rua Antônio Perez Hernandez, no Campolim, onde deverá ser construída a Igreja de São Pio de Pietrelcina. “O complexo não terá mais o museu”, confirmou o padre Wilson, citando que o pré-projeto será apresentado à comunidade no final deste mês e obras devem começar em janeiro de 2019.
Dom Julio afirma que tem procurado tornar acessível as peças do museu de arte sacra à população e desde que assumiu a Arquidiocese, em fevereiro de 2017, já foram realizadas pelo menos quatro exposições na própria Catedral, todas organizadas em torno de determinada temática religiosa e litúrgica.
Nos últimos anos o Museu Arquidiocesano podia ser consultado apenas por estudantes e pesquisadores, mas as visitas foram suspensas em junho do ano passado, depois que o então diretor financeiro e administrativo, Pedro Benedito Paiva Júnior, foi afastado do cargo. Segundo dom Julio, que preside o corpo diretivo do museu, recentemente o cargo foi preenchido pelo voluntário João Paulo Rossi. “Esse afastamento deu oportunidade para uma série de ações importantes”, comenta o arcebispo, citando que o acervo passou por limpeza e reorganização. “Foi feita uma conferência minuciosa do cadastro das peças guardadas. Foi feita uma seleção de todos itens e uma separação das peças com verdadeiro valor artístico e histórico”, diz.
Museu funcionou na parte superior da Catedral e estava fechado há 15 anos. Crédito da foto: Arquivo JCS (18/8/1985)
Restrita
Apesar das ações descritas, o acesso da reportagem ao museu foi negado sob a alegação de que a reserva técnica do acervo permanece fechada para visitação. O arcebispo, no entanto, forneceu nove fotos que retratam a situação atual do acervo. A visitação se tornou restrita em 2013, já que o acesso ao piso superior é feito por uma escada em espiral, considerada perigosa para o público em geral.
Com base em matérias publicadas nos últimos anos no Mais Cruzeiro, o Museu Arquidiocesano possui em seu acervo mais de três mil fotos e 350 itens, sendo 181 imagens sacras nacionais e europeias dos séculos 17 a 19, bem como livros, partituras, missais e diversos objetos, entre os quais se destacam móveis usados por Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, nos 11 meses em que ele morou em Sorocaba (em 1811, com a missão de fundar o Mosteiro de Santa Clara) e Estandartes de Misericórdia, que até meados do século 19 eram carregados por condenados em ritos de enforcamento em praça pública que ocorriam em frente ao Cemitério da Saudade.
PesquisaMóveis também são parte do acervo do museu que foi fundado em 1975. Crédito da foto: Divulgação
Pós-doutora em História, artista plástica e pesquisadora de artes sacras, Nancy Ridel Kaplan destaca que o acervo do museu possui peças de valor inestimável e o acesso irrestrito da população poderia se desdobrar também em uma série de pesquisas científicas e acadêmicas, não apenas centradas na arte sacra, mas também sobre a cultura e a história de Sorocaba. “Geralmente, quando se fala em arte sacra, isso gera um desconforto por pertencer à igreja católica, mas a história da gente está nessas peças, que fizeram parte de capelas de fazendas da região, que foram objeto de devoção de quem morava aqui. Além do valor enquanto obra de arte, popular ou erudita, tem um valor enquanto história da gente”, defende.
Dom Julio Endi Akamine reconhece a potência histórica do acervo e não descarta a possibilidade de firmar parcerias com instituições interessadas em revitalizar, organizar e manter essas obras expostas ao público. “O fato de ainda não ter feito tal parceria não significa que não o façamos. Estamos abertos para tais parcerias que favoreçam a exposição do nosso acervo sacro. Há diversas dificuldades jurídicas para fazer essas parcerias que precisam ser superadas, porque não há como celebrar parcerias sem contratos formais”, finaliza.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário