Obra dará base para construir primeiro museu de arte sacra de Porto Alegre.
texto de :Rafaella Fraga Do G1 RS
Cartão-postal de Porto Alegre e referência arquitetônica na paisagem da cidade, a Igreja Nossa Senhora das Dores passa por uma nova fase de restauração. O trabalho, quando pronto, abrirá caminho para concretizar um antigo sonho de historiadores, museólogos, artistas e da comunidade local: a construção do primeiro museu de arte sacra da capital gaúcha.
A ideia é expor ali os cerca de 2 mil itens que hoje estão quase escondidos em pequenas salas, estimulando o turismo e atraindo interessados no assunto. Mesmo com as obras em andamento, o local segue aberto aos visitantes. O acesso é gratuíto.
É fácil se impressionar com a imponência da edificação. Situada na Rua dos Andradas, quase às margens do Guaíba, é a igreja mais antiga da cidade ainda de pé e levou quase 100 anos para ser erguida. Teve sua construção iniciada no ano de 1807, com uma pequena capela. Em 1846 ganhou formato, mas só foi concluída em 1904.
Cercado por três portões de ferro, a entrada do templo é antecedida por 63 degraus. A famosa escadaria é frequentemente disputada para ser cenário de vídeos publicitários, filmes e ensaios fotográficos. Inclusive, há fila para casamentos.
Famosa escadaria da Igreja das Dores, de Porto Alegre, tem 63 degraus (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Na parte interna da igreja, também chama atenção a grandiosidade da arquitetura, de estilo barroco português, com elementos neoclássicos. O templo é o único tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) de Porto Alegre, e é um dos primeiros tombamentos no estado, em 1938.
O acervo documental hoje é o que torna a Igreja das Dores esse museu vivo. A igreja tem mais de 200 anos e faz parte da história de Porto Alegre. Vai ser o primeiro museu de arte sacra da cidade,
mas também vai contar parte da história da cidade"
Caroline Zuchetti, museóloga
A estrutura já foi restaurada em anos anteriores. Entre 2001 e 2006, com verba captada junto à Lei de Incentivo à Cultura (LIC-RS) do Estado, houve a troca de fiação e a reparação do espaço central da igreja, entre as fileiras.
As obras da nova fase servirão de base para futuros empreendimentos, como o museu. Além disso, com a conclusão da reforma, iniciada em dezembro de 2016 e prevista para ficar pronta até novembro deste ano, os visitantes poderão acessar as duas torres do templo. Do alto de mais de 60 metros, será possível vislumbrar uma vista panorâmica do Centro Histórico.
“A Igreja das Dores é o primeiro bem tombado de Porto Alegre, e é de extrema importância a preservação dela por este fato, mas também pelo elemento arquitetônico que representa pra paisagem da cidade. Essa restauração prevê que se mantenha por muitos mais anos esse monumento”, observa o arquiteto Lucas Volpatto, responsável pela obra.
Igreja das Dores, em Porto Alegre, é um dos
cartões-postais da cidade (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Aprovado em 2015 também pela LIC, o atual projeto, com custo de R$ 1,6 milhão, prevê o restauro da estrutura ornamentada que fica atrás do altar na capela suplementar, de bens integrados da capela principal, como altar, pinturas, portas, tribunas, além de reparos no telhado.
“A primeira intervenção feita foi no telhado, de madeira. Parece de pouca importância, porque ninguém vê, mas o telhado é fundamental para qualquer edificação histórica”, explica Volpatto.
Aberta diariamente, a igreja recebe visitas de escolas e turistas, além de pesquisadores e acadêmicos, mas os passeios são limitados. Um dos pontos mais importantes do projeto é a implantação do Plano de Prevenção de Incêndios (PPCI), que é o que vai permitir o acesso às duas torres.
“A gente entende que para a visitação, para o conforto das pessoas que frequentam, seja turista ou fiel, é interessante que se tenha essa prevenção contra incêndio, com equipamentos adequados, e que não interfiram no patrimônio histórico do local”, sustenta o arquiteto.
Museu de arte sacra precisa de recursos
Orçado em R$ 2,5 milhões, o projeto do museu foi aprovado pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura, também em 2015. No entanto, para sair do papel, ainda precisa encontrar apoiadores e alcançar o valor até o fim deste ano.
“É um acervo que começou a ser organizado desde a década de 1970. Mas só a partir de 1990 é que se preocupou em ter um profissional preservando esse material”, explica a museóloga Caroline Zuchetti, responsável pelo acervo.
“Esse projeto do museu vai vir de encontro com essa preservação adequada que a gente tanto precisa. Infelizmente, por falta de recursos, nem sempre a gente consegue cuidar de tudo da forma exigida. A gente faz dentro do possível, dentro das nossas condições de armazenamento atuais”, completa ela.
"A gente precisa cuidar das questões de clima, por exemplo. Tem muita umidade aqui e a gente não pode instalar um desumidificador na parede porque não pode modificar a estrutura física, é um patrimônio tombado", exemplifica.
Museóloga mostra acervo de cerca de 2 mil itens da Igreja das Dores (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Dentro da igreja, já há um espaço escolhido para sediar o museu. Por enquanto, ele ainda é um ateliê improvisado da restauradora Susana Cardoso. É ali que ela trata e recupera os bens.
O projeto prevê que o local seja uma sala de exposição permanente, mas com recursos interativos, a exemplos de outros museus mais modernos. O subsolo será o espaço das exposições temporárias e de eventos, como vernissages.
O acervo, de cerca de 2 mil itens, é composto de têxteis, como paramentos e vestimentas religiosas, além de livros, estátuas, castiçais e capelas talhadas em madeira, entre outros objetos. Para a museóloga, esse material é o que torna a Igreja das Dores por si um “museu vivo”.
Ela reconhece, porém, que um espaço organizado é fundamental para conservar as peças e dar a visibilidade adequada e necessária ao material. “O acervo documental hoje é o que torna a Igreja das Dores esse museu vivo. A igreja tem mais de 200 anos e faz parte da história de Porto Alegre. Vai ser o primeiro museu de arte sacra da cidade, mas também vai contar parte da história da cidade”, frisa.
Qualquer pessoa pode ajudar a financiar o projeto. O valor que for investido será abatido no imposto de renda do próximo ano.
Após implantação do PPCI, torres da Igreja das Dores poderão ser visitadas (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Reforma vai reparar pintura e outros detalhes do altar da Igreja das Dores (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Igreja está em fase de restauro, que tem previsão de ser concluída em novembro (Foto: Rafaella Fraga/G1)
Fonte: Do G1 RS
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