Detalhes de uma das pranchas encontradas na Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária de Itu. Renata Guarnieri/Prefeitura de Itu
Como parte da programação de aniversário de 405 anos de Itu, no dia 25 de fevereiro (quarta-feira), serão apresentadas descobertas sobre a Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária até então esquecidas há muito pelo tempo ou escondidas sobre camadas de tintas. A mostra “Tesouros da Matriz de Itu”, que acontece na Casa da Praça, e o lançamento do “Cadernos do Patrimônio de Itu”, que acontece no Salão Paroquial “Dom Antonio Joaquim de Mello”, prometem encantar e surpreender a todos com imagens belíssimas feitas pelas mãos habilidosas de Padre Jesuíno do Monte Carmelo, Mathias Teixeira da Silva, José Patrício da Silva Manso e Bartolomeu Teixeira.
Na ocasião do primeiro restauro da Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária de Itu, ocorrido a partir de 2001, a equipe responsável pela obra foi informada pelo professor Luís Roberto de Francisco, pesquisador do Museu da Música – Itu, da existência de pranchas (tábuas de madeira) aparentemente muito antigas, contendo sinais de pinturas artísticas. Essas pranchas protegiam internamente o relógio da fachada da igreja. Já durante o segundo restauro, em 2014, as pranchas foram prospectadas e revelaram traços característicos da obra do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, o mais famoso pintor colonial paulista, autor das telas da capela mor da Igreja Matriz de Itu, do forro da capela mor da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, do projeto arquitetônico e quadros da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio de Itu, e de numerosas obras pictóricas e escultóricas em São Paulo e Santos, entre muitas outras.
Com a união das pranchas notou-se que, mesmo incompletas, as imagens formam a cena da Deposição da Cruz. A origem das pranchas com suas pinturas de beleza ímpar ainda é indefinida, poderiam ser da própria Igreja Matriz de Itu, da Igreja do Bom Jesus ou até mesmo da Igreja do Carmo. Uma vasta pesquisa está sendo realizada para tentar desvendar esse mistério que, ao menos por enquanto, está sem resposta.
Mais descobertas aconteceram ainda pela ocasião do primeiro restauro, que compreendeu o forro da capela mor, e que só foram amplamente reveladas agora com a segunda etapa da obra. Algumas prospecções mostraram a existência de pinturas fortemente coloridas em absolutamente todos os elementos de madeira da igreja e mostraram que a pintura do forro se estendia pelas paredes da capela mor até o chão. Com a realização da segunda etapa do restauro, e com previsão de término para 2016, são descobertas a cada nova fase elementos históricos e encantadores aos olhos.
“Os dados históricos mais relevantes foram achados logo no início (do segundo restauro), ao remover-se as grandes telas fixadas ao revestimento de madeira das paredes laterais da capela mor. Sob uma delas há uma assinatura inscrita à tinta, com caligrafia, ortografia e abreviação antigas, ‘Mathias Teixeira da Silva’; e sob uma outra a data ‘1788’. Debaixo de outras, ainda, há esboços de cenas de caça, tudo com o mesmo material e indubitavelmente feito pela mesma mão. Repassadas ao historiador Carlos Gutierrez Cerqueira, do IPHAN-SP, geraram uma sucessão de dados históricos que muito ilustram e esclarecem da história de Itu e da arte colonial paulista”, comenta o conservador restaurador de bens culturais, Julio Moraes.
O valor da Igreja Matriz de Nossa Senhora Candelária de Itu fez com que fosse um dos primeiros objetos de tombamento promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Estado de São Paulo, logo após a sua fundação em 1937. Além de ser um importante marco religioso, a igreja é um destacado símbolo e testemunho da identidade cultural de Itu, de todo o Estado e do país, por isso, foi elevado à categoria de monumento nacional.
Durante a mostra, que ficará na Casa da Praça até o dia 2 de agosto, os visitantes também poderão apreciar os detalhes de algumas pranchas onde já foi possível “juntar as partes” e remontar alguns conjuntos da cena pintada por Jesuíno, em algum momento do final do século XVIII e início do século XIX.
“Os 405 anos de Itu ficarão marcados pela recuperação desse patrimônio artístico e cultural que tem relevância nacional. É mais uma contribuição de nossa cidade para a História e a Cultura brasileira“, disse o prefeito de Itu Antônio Tuíze.
A beleza da Igreja Matriz de Itu é citada até mesmo por Mário de Andrade que, em 1937, inventariava obras do Brasil Colônia para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) e, já cansado com a falta de obras barrocas representativas em terras paulistas, ficou encantado com o que encontrou em Itu. O entusiasmo foi tanto que, em 1941, dedicou-se a escrever sobre Padre Jesuíno concluindo o trabalho meses antes de sua morte em 1944.
A viabilização do restauro da Igreja Matriz Nossa Senhora Candelária de Itu aconteceu pela parceria entre a Prefeitura de Itu, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Arquidiocese de Jundiaí, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A OSCIP Museu a Céu Aberto incumbiu-se do gerenciamento geral do projeto e dos serviços; o restauro de escultura, pintura e douração ficou a cargo de Julio Moraes Conservação e Restauro; a firma Inspirati Arte, Cultura e Comunicação responsabilizou-se pelo tratamento de madeiras e suporte operacional para as obras de restauro, e VEC Engenharia e Gestão garante o suporte técnico de engenharia e logística. O licenciamento, fiscalização e acompanhamento geral são feitos pelo IPHAN e pela Secretaria Municipal de Cultura de Itu.
A mostra “Tesouros da Matriz de Itu” pode ser visitada gratuitamente de terça a domingo, das 10 às 16 horas.
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