quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Beato Fra Angelico: transmitir a beleza de Deus com o pincel


Por Carmen Elena Villa

ROMA, sexta-feira, 12 de junho de 2009 .-
A cidade eterna recebeu em 2009 uma amostra do trabalho de Fra Angelico, com o título “Beato Angelico, alvorada do Renascimento”.
Seu nome de batismo foi Guido de Pietro da Mugello. Ao ingressar na ordem dominicana, começou a chamar-se Giovanni da Fiesole.
Anos depois de sua morte, em 1455, seus irmãos de ordem começaram a chamá-lo de Beato Angélico, diante de sua fama de santidade. Mas foi efetivamente beatificado apenas em 1982, por João Paulo II. Os frades diziam que suas obras refletiam tanta serenidade que pareciam pintadas por anjos.
Recebeu o apelido de Angélico também pelo valor teológico de suas pinturas. Dizia o pintor sacro toscano que, para pintar suas obras, inspirava-se na doutrina teológica de São Tomás de Aquino (1225-1274), chamado também de Doutor Angélico.
Para Fra Angelico, seus quadros convertiam-se em espaços onde se anunciava o Evangelho. Passagens bíblicas do Antigo e Novo Testamento, vidas de grandes santos (como São Pedro, São Paulo, São Francisco, Santa Catarina de Sena, Santo Domingo de Gusmão, entre muitos outros) eram sua grande inspiração.
“Muitas pinturas de Fra Angelico foram destinadas à devoção, à meditação e à contemplação”, assegura o historiador da arte Antonio Giordano, professor da Universidade Popular de Roma (UPTER).
Giordano destaca “a monumentalidade de suas figuras, o esplendor de suas cores, a graça de seus rostos. Sobretudo os da Virgem e dos anjos. A solenidade de seus santos e o testemunho dos mártires”.
A arte sacra foi o único tema utilizado pelo frade dominicano, ordenado sacerdote aproximadamente em 1418. A vida, as virtudes dos mártires Santo Estevão e São Lorenzo são os motivos dos afrescos que se destacam na capela Nicolina, situada nos Museus Vaticanos, pintada por encargo do Papa Nicolau V.
Segundo Antonio Paolucci, diretor dos Museus Vaticanos, esta, que foi a capela privada do pontífice, passa muitas vezes desapercebida por milhares de turistas e peregrinos que querem apenas apreciar os afrescos da Capela Sistina. E, no entanto, constitui uma das pérolas do Museu.
Seus biógrafos asseguram que Fra Angelico não pegava nos pincéis antes de fazer uma oração. Quando pintava os crucifixos ou o rosto sofredor de Jesus durante a Paixão, chorava de emoção devido a sua grande bondade e sensibilidade espiritual.
Fra Angelico pintou também o Convento de São Marcos por encargo do Papa Eugenio IV. O pontífice lhe propôs em 1446 ser bispo de Florença, mas o artista sentiu-se indigno e declinou da proposta, dizendo que devia obediência em primeiro lugar aos superiores de sua comunidade.
Apesar de seu enorme talento, com o que marcou a transição à primeira fase do renascimento, nunca pintou um auto-retrato.
“Poderia ter sido rico, mas não se importava. Dizia que a verdadeira riqueza não era outra que contentar-se com pouco”, escreveu o artista italiano Giorgio Vasari, seguidor de Fra Angelico, quase um século depois da morte do beato.
Sua obra mais conhecida é a Anunciação, que se encontra no Museu do Prado, em Madri. No entanto, não foi a única vez que pintou o encontro de Maria com o anjo Gabriel.
Na mostra em Roma (foi a maior exposição do beato desde 1955), encontrava-se também o quadro da anunciação que normalmente pode-se apreciar no convento Santa Maria das Graças, em Milão.
Às costas do anjo há uma janela onde se encontram Adão e Eva. Aqui, Fra Angelico deixa ver com o pincel como Maria é a Nova Eva, que, como seu “sim” ao anjo, traz a redenção à humanidade.
Debaixo desta grande imagem encontram-se em formato menor algumas pinturas que fazem ver como ao longo de sua vida Maria repetiu o “sim” da anunciação: seu casamento com José, a visita à prima Isabel, a adoração dos pastores e a apresentação de Jesus no Templo.
Em outras de suas pinturas, representa algumas cenas da vida cotidiana da Virgem. Muitas delas recebem o nome de “A mão da humildade”, em que Maria aparece com simplicidade, com um rosto doce e expressivo, com o Menino Jesus sentado no seu colo.
“A Virgem é vista sempre por Fra Angelico como Theotokos [Mãe de Deus] o Regina Coeli" [Reina do Céu] –diz o professor Giordano, assegurando também que o pintor retrata Maria como “uma dulcíssima mãe enquanto abraça o Menino”.
O túmulo do beato Angelico encontra-se na basílica de Santa Maria Sopra Minerva, muito próximo do Panteão de Roma, em cujo convento o artista morreu em 1454. Ali jazem também os restos mortais de Santa Catarina de Sena.
João Paulo II, no motu proprio que escreveu pela beatificação do artista, assegurava que suas obras “são fruto de suma harmonia entre a vida santa e a força criativa que atuava nele”.
Obras que convidam a que o homem possa contemplar “as coisas divinas”, disse o Papa.

Fonte: http://www.zenit.org/article-21864?l=portuguese

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