sábado, 17 de dezembro de 2016

CATEDRAL BASÍLICA DE NOSSA SENHORA DO PILAR – SÃO JOÃO DEL REI, MINAS GERAIS

A devoção a Nossa Senhora do Pilar é antiquíssima, originando-se no século I da Era Cristã. A tradição relata que o apóstolo Santiago (Tiago Maior, filho de Zebedeu) havia se deslocado para a Península Ibérica, e estava evangelizando na cidade de ‘Cæsaraugusta’ – atual Zaragoza – local onde as conversões eram raras. Em determinado dia, ele teve uma visão de Maria, a Mãe de Jesus, que ainda era viva e morava em Jerusalém: Ela veio até ele acompanhada de anjos que carregavam uma coluna de jaspe. Os espíritos celestes colocaram no chão essa coluna, e sobre ela a Virgem pousou, prometendo aos cristãos uma série de auxílios sobrenaturais, e garantindo que essa coluna permaneceria ali até o fim do mundo, como um símbolo visível da fortaleza que deveriam ter na fé. Após esse dia, São Tiago e seus discípulos ergueram uma pequena edícula para abrigar o pilar, que com o tempo se tornou destino de peregrinação – atualmente é o local onde está a Basílica do Pilar de Zaragoza.

Da Espanha essa devoção se estendeu para Portugal, e posteriormente veio para o Brasil, trazida pelos aventureiros que chegavam em busca de novas oportunidades. Em Salvador e Recife foram construídas igrejas dedicadas a Nossa Senhora do Pilar, e na região de Minas Gerais esse orago também não tardaria a aparecer.

* * * *

No princípio do século XVIII, o paulista Lourenço Costa descobriu ouro em um ribeirão próximo à Serra do Lenheiro, na região central da província de Minas. Essa descoberta atraiu pessoas, e fez surgir pequenos núcleos de povoamento, dos quais o maior era o “Arraial Velho do Rio das Mortes”.

Após 1707, devido a divergências referentes à posse das terras, os paulistas insurgiram-se contra os “forasteiros”, que eram pessoas que chegavam lá oriundas de outras capitanias. Esses não-paulistas eram chamados de “emboabas”, e foram os responsáveis pelo surgimento do ‘Arraial Novo do Rio das Mortes’, onde construíram uma singela capela dedicada a Nossa Senhora do Pilar. No entanto, durante um cerco ocorrido na dita ‘Guerra dos Emboabas’, essa capela teria sido incendiada pelos paulistas.

Com a divisão das Capitanias de São Paulo e Minas do Ouro (por volta de 1711), os ‘emboabas’ se restabeleceram no arraial primitivo, o qual foi elevado à condição de ‘vila’ (1713), recebendo o nome de ‘São João d’el Rei’, em homenagem a Dom João V, rei de Portugal. Ali foi construída uma segunda igreja em honra a Nossa Senhora do Pilar, que foi utilizada como matriz até 1724, ocasião em que foi substituída por uma outra igreja definitiva, situada mais próxima do núcleo da vila.

A autorização para a nova construção foi emitida em 1721 pelo bispo do Rio de Janeiro, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento, como de costume, assumiu os principais encargos para conduzir as obras.

Consta que a fachada original dessa matriz era obra do português Francisco de Lima Cerqueira, e provavelmente era bela, uma vez que esse esse arquiteto atuou na fachada da igreja de São Francisco de Assis, da mesma cidade, conhecida por ter um dos mais belos frontispícios do Brasil. No entanto, nada sobrou acerca desse antigo exterior. A atual fachada é resultado de uma ampliação frontal da nave, realizada entre 1820 e 1844, e teria sido desenhada pelo alferes Manuel Vitor de Jesus, ficando mais sóbria e tendente ao neoclássico, lembrando matrizes encontradas bem mais ao sul, em cidades situadas ao longo do Vale do Rio Paraíba.








Sobre o belo interior dessa igreja, quase nenhum documento restou. Sabe-se que a talha da capela mor é de cerca de 1745, mas os altares que ornam a nave principal parecem ser mais antigos. São seis altares secundários, cada um elaborado por uma irmandade distinta: São Miguel, Nossa Senhora do Rosário, Nosso Senhor dos Passos, Nossa Senhora da Boa Morte, Santa Ana e Nossa Senhora da Conceição.







O teto é rococó, de autoria de Venâncio José do Espírito Santo, e é considerado a maior superfície pintada do barroco mineiro. Representa no medalhão central a Virgem com o Menino Jesus, os Quatro Evangelistas, e quatro Doutores da Igreja. Abaixo do medalhão de Nossa Senhora, anjos seguram pergaminhos com os dizeres “Tota pulchra es Maria, et macula originalis non est in te” (Toda formosa sois, Maria, e não há a mácula original em vós).



Mas o que mais encanta nessa igreja é a sua capela mor, que, na opinião de German Bazin, é uma das mais belamente entalhadas em Minas Gerais. Seu teto é em formato ogival, e suas paredes laterais são ornadas por duas grandes telas, vindas de Portugal em 1732, representando a Última Ceia e a visita de Jesus à Casa de Simão.



No trono, uma imagem mais recente de Nossa Senhora do Pilar, que foi executada no Rio de Janeiro, em 1922, pelo escultor espanhol Cyriaco da Costa Tavares.




Acima, altar da capela do Santíssimo Sacramento

Em 1960 foi criada a Diocese de São João del-Rei, e a matriz foi elevada a catedral. Cinco anos depois, em 1965, recebeu o título de basílica.

A Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar ainda sedia irmandades surgidas no século XVIII: a do Santíssimo Sacramento, São Miguel e Almas, Senhor dos Passos e Nossa Senhora da Boa Morte. Elas são responsáveis pela continuidade de diversas cerimônias e ofícios religiosos, nesta cidade que, embora bastante crescida, ainda é uma das que mais preserva tradições católicas no Brasil.







__________

REFERÊNCIAS:

– BAZIN, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958

– MOURÃO, Paulo Kruger Correa, As igrejas setecentistas de Minas, Belo Horizonte: Itatiaia, 1986

– GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei – Século XVIII – História sumária. 1996, pág. 52, 54.

– SOBRINHO, Antônio Gaio. Catedral de Nossa Senhora do Pilar. Disponível em: www.sjdr.com.br

Basílica del Pilar – Zaragoza

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...