terça-feira, 7 de abril de 2015

Pequeno escrínio de um grande tesouro



"Nos menores frascos se encontram os melhores perfumes", reza um ditado popular. E isso é o que constata quem visita as cidades históricas do Ciclo do Ouro, no século XVIII, em Minas Gerais, e passa por Sabará.




Chegando a um recolhido largo do antigo Arraial de Tapanhuacanga, se depara com uma igrejinha, com ares do barroco colonial brasileiro. Sua simplicidade exterior, no entanto, não deixa transparecer que se trata de um pequeno escrínio contendo um grande tesouro. É a Igreja de Nossa Senhora do Ó.

Ao entrar, o visitante contempla, encantado, um rico retábulo em arco-cruzeiro, esculpido e policromado, que apresenta uma harmônica composição de ouro sobre azul e vermelho, em medalhões com delicados motivos chineses. Uma iluminação suave inunda o recinto, penetrando pela alta janela de sua sacada, no coro, e realçando as figuras e detalhes dos quadros, nas paredes da nave e no teto. As pinturas das laterais retratam narrações bíblicas e as do teto trazem símbolos das ladainhas.

No centro do altar-mor, porém, está o ápice de todo o conjunto: Maria Santíssima, cuja humildade agradou tanto a Deus que n'Ela quis fazer maravilhas, para que todas as gerações A proclamem Bem-Aventurada (cf. Lc 1, 49-50). A igrejinha parece reproduzir, de fato, o canto da Virgem no Magnificat, em sua modéstia externa e esplendor interno.

Entretanto, qual o motivo de sua inusitada invocação: Nossa Senhora do Ó?

Durante anos, "Nossa Senhora vinha suplicando a Deus que apressasse a chegada do Redentor e, sendo sua oração insondavelmente agradável ao Padre Eterno, d'Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos".1 E Ela concebeu do Espírito Santo, quando disse "Fiat!" ao Anjo que Lhe anunciara a mensagem divina (cf. Lc 1, 38). Por nove meses, a partir da Anunciação, Maria carregou em Si a expectativa dos séculos: não tardaria mais a chegada do Messias. Por este prisma, Ela é chamada de Nossa Senhora da Expectação ou Nossa Senhora do Ó, em alusão às antífonas do Magnificat que a Igreja canta nas Vésperas, no Ofício Divino, durante os sete dias que antecedem o Natal. Elas exprimem a alegria da Mãe do Salvador ao sentir em Si o Corpo adorável do Rei do Universo, prestes a vir à luz, uma vez que todas estas antífonas se iniciam pela interjeição vocativa "Ó", dirigindo-se a Ele: "Ó Sabedoria... Ó Adonai... Ó Raiz de Jessé... Ó Chave de Davi... Ó Sol nascente justiceiro... Ó Rei das nações... Ó Emanuel...".

Não nos esqueçamos, contudo, de que este mesmo Cristo que esteve presente no seio puríssimo e virginal de Maria, e "orava ao Pai como de dentro do mais prodigioso dos sacrários, [...] hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de todo o mundo",2 por toda a humanidade.

Assim, caro leitor, ao longo de seus caminhos, quando cruzar com alguma igreja, seja uma capela, a mais singela, seja uma suntuosa catedral, saiba que ali está o maior de todos os tesouros do universo, Jesus Sacramentado, à espera de sua visita e sua oração, pois Ele mesmo prometeu: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).

Por Ir. Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP

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1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Jubilosas esperanças no advento do Messias. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano IX. N.105 (Dez., 2006); p.18.
2 Idem, p.20.


Fonte: GaudiumPress

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