quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A Igreja e o Ensino na Idade Média


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O Dr. Thomas Woods, PhD em História pela Universidade de Harvard nos EUA, disse em um dos seus livros que:
“Bem mais do que o povo hoje tem consciência, a Igreja Católica moldou o tipo de civilização em que vivemos e o tipo de pessoas que somos. Embora os livros textos típicos das faculdades não digam isto, a Igreja Católica foi a indispensável construtora da Civilização Ocidental. A Igreja Católica não só eliminou os costumes repugnantes do mundo antigo, como o infanticídio e os combates de gladiadores, mas, depois da queda de Roma, ela restaurou e construiu a civilização”. [Woods, 2005, pg. 7]
Um dos pontos mais importantes da atuação da Igreja na Idade média cristã, foi no campo da Ciência. Sem a Igreja não haveria a beleza da arquitetura, da música, da arte sacra, das universidades, dos castelos, do direito, da economia, etc.
No séc. VI São Cesário de Arles já expunha no Concílio de Vaison (529) a necessidade imperiosa de criar escolas no campo; e os bispos se dedicaram a isto. Da mesma forma foi a Igreja que montou para Carlos Magno (†814) a sua política escolar; e retomou a tarefa educadora no séc. X após o fim do seu Império.
O III Concílio de Latrão (1179), em Roma, presidido pelo Papa Alexandre III (1159-1181), ordenou ao clero que abrisse escolas por toda a parte para as crianças, gratuitamente. Obrigou a todas as dioceses terem ao menos uma. Essas escolas foram as sementes das Universidades que logo surgiam: Sorbone (Paris), Bolonha (Itália), Canterbury (Inglaterra), Toledo e Salamanca (Espanha), Salerno, La Sapienza, Raviera na Itália; Coimbra em Portugal.
No séc. XII havia só na França 70 abadias com escolas. Todos os grandes bispos também quiseram ter escolas; na França, no séc. XII havia mais de 50 escolas episcopais. Dos sete aos vinte anos as crianças e os jovens eram recebidos nessas escolas sem distinção de classes. Havia escolas só para meninas e moças. As disciplinas dividiam-se em “trivium” (gramática, dialética e retórica) e “quadrivium” (artimética, geometria, astronomia e música). Mas um grande pedagogo da época Thierry de Chartres, mostrou que o “trivium e o quadrivium” eram apenas um meio e que o fim era “formar almas na verdade e na sabedoria”.
Em muitas escolas os alunos tinham ensino técnico de como trabalhar o ouro, prata e cobre. Aos poucos surgiam as especializações: Chartres (letras), Paris (teologia), Bolonha (direito), Salerno e Montpellier (medicina).
O Concilio geral de Latrão III, aprovou o seguinte cânon:
“A Igreja de Deus, qual mãe piedosa, tem o dever de velar pelos pobres aos quais pela indigência dos pais faltam os meios suficientes para poderem facilmente estudar e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um benefício (rendimento) conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres” (can. 18, Mansi XXII 227s).
O IV Concílio ecumênico do Latrão (1215), renovou este decreto. Teodulfo, bispo de Orléans no séc. VIII, promulgou o seguinte decreto: “Os sacerdotes mantenham escolas nas aldeias, nos campos; se qualquer dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos para aprender as letras não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes com perfeita caridade. Nem por isto exijam salário ou recebam recompensa alguma a não ser por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por afeto ou reconhecimento” (Sirmond, Concilia Galliae II 215).
É muito significativo um dos últimos depoimentos sobre a acusação de que a Igreja obstruiu a ciência na Idade Média, proferido em 1957 por um grupo de estudiosos que, sem intenção confessional alguma, escreveram a história da ciência antiga e medieval:
“Parece-nos impossível aceitar a dupla acusação de estagnação e esterilidade levantada contra a Idade Média latina. Por certo a herança (cultural) antiga não foi totalmente conhecida nem sempre judiciosamente explorada;… mas não é menos verdade que de um século para outro – mesmo de uma geração a outra dentro do mesmo grupo – há evolução e geralmente progresso. A Igreja… na Idade Média salvou e estimulou muito mais do que freou ou desviou. Por isto, embora só queira apelar para a Antigüidade, a Renascença é realmente a filha ingrata da Idade Média” (La science antique et médiévale, sous la direction de René Taton, Presses Universitaires de France. Paris 1957, 581s).
Esses poucos dados mostram o quanto a Igreja fez pelo ensino e pelo saber na Idade Média, bem ao contrário do que muitos pensam: que a Igreja foi contra a ciência e o ensino.

Prof. Felipe Aquino Fonte: Cleofas

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