sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Congonhas (MG) – Começa sábado programação do Ano do Barroco que reverencia obras de Aleijadinho

Novidade é o lançamento de aplicativo que permitirá visualização de parte do rico acervo barroco.

O retrato oficial do mestre do barroco, que passou por várias mãos antes de chegar ao Museu Mineiro, ilustra o cartaz da programação.
O retrato oficial do mestre do barroco, que passou por várias mãos antes de chegar ao Museu Mineiro, ilustra o cartaz da programação.
Todas as homenagens ao patrono das artes no Brasil e estrela máxima do mês que começa sábado. A vida e a obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814), serão reverenciadas no estado, em grande estilo, com encontros culturais, palestras, exposições, lançamento de livros, peças teatrais, mostra de documentário e outras atividades, que integram o Ano do Barroco e lembram os 200 anos da morte do “mestre do barroco”. O ponto alto será 18 de novembro e até lá diversas instituições, como museus, escolas e prédios públicos, terão recebido o retrato oficial de Aleijadinho, um cartaz resultante da parceria entre o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), Ministério Público (MPMG), via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC) e Imprensa Oficial.
Em Congonhas, na Região Central de Minas, moderna tecnologia se une ao passado para mostrar ao mundo o trabalho do escultor, entalhador e arquiteto mineiro, enquanto na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) haverá o 9º Colóquio Luso-brasileiro de História da Arte para abordar as linguagens da obra de Aleijadinho. Com tiragem de 3 mil exemplares e formato A3 (29,7cm por 42cm), o cartaz com a pintura de Aleijadinho “representa a conjunção de mineiridade, história e cultura”, afirma o diretor-geral da Imprensa Oficial, Eugênio Ferraz. O lançamento da peça será dia 13, às 19h, na sede da Imprensa Oficial, na Avenida Augusto de Lima, no Centro de BH. Ferraz adianta que haverá outras atrações na casa para lembrar a trajetória do artista natural de Ouro Preto.
A imagem do cartaz é o retrato oficial exposto no Museu Mineiro, na Avenida João Pinheiro, em Belo Horizonte – trata-se de óleo sobre pergaminho feito no século 19 por Euclásio Penna Ventura. O quadro, na verdade um ex-voto, medindo 20cm por 30cm, pertenceu à Casa dos Milagres, de Congonhas, mostra um homem mulato bem vestido. Foi vendido em 1916 a um comerciante de Congonhas, Senhor Baerlein, proprietário da Relojoaria da Bolsa do Rio de Janeiro. A alegação de que se tratava do rosto do mestre do barroco se baseou na imagem representada ao fundo da pintura, em segundo plano, que parecia idêntica a uma obra de autoria do artista.
A trajetória da pintura até o museu foi longa e, segundo as pesquisas, “não se sabe quando Baerlein vendeu o quadro a Bastos Dias, também do Rio de Janeiro. Esse, por sua vez, o transferiu para o Antiquário Esslinger, da mesma cidade, quando foi comprado pelo colecionador carioca Guilherme Guinle”. Na época, a pintura já estava acrescida de nova informação, dada pelo citado antiquário: seria provavelmente de autoria do Mestre Manuel da Costa Ataíde. Por intermédio do mineiro Nelson Libânio, Guinle o doou, em março de 1941, como Retrato de Aleijadinho, ao Arquivo Público Mineiro, instituição estadual na época responsável pela guarda do patrimônio histórico, artístico e cultural de Minas Gerais, até a instalação do Museu Mineiro. No quadro do Museu Mineiro, Aleijadinho está com as mãos escondidas sob o casaco e traz um caderno de anotações em vermelho no bolso.
Debates 
O colóquio da UFMG será na Escola de Arquitetura, de domingo a quarta-feira, juntando conferências e debates sobre pesquisas em arte e arquitetura dos séculos 16 a 19, vinculadas a culturas construídas de forma interligada em Brasil e Portugal. Nesse contexto, Aleijadinho ganhará um dia inteiro dedicado à sua obra. O objetivo é valorizar a importância do artista no barroco internacional, mediante análise crítica das diversas linguagens de sua produção, informa o coordenador do encontro, professor André Dornelles Dangelo.

O barroco aos olhos do mundo
Para marcar o bicentenário da morte de Aleijadinho, Congonhas se torna a primeira cidade brasileira com bens reconhecidos pela Unesco a ser beneficiada pelo projeto Era Virtual – Cidades Patrimônio, parceria da prefeitura local, Unesco e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A partir do dia 17, o internauta poderá fazer uma visita virtual ao conjunto do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos e aos núcleos que compõem o circuito de peregrinação. “Em qualquer lugar do planeta, via tecnologia, será possível ter uma perspectiva diferenciada do acervo, por meio de imagens imersivas em 360 graus, aéreas e em solo”, diz o presidente da Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo (Fumcult), Sérgio Rodrigo Reis. A iniciativa tem patrocínio da Fundação Vale.
Reis explica que os detalhes das obras de arte e arquitetura, incluindo os 12 profetas esculpidos por Aleijadinho, e os interiores da Basílica do Senhor Bom Jesus e das capelas dos Passos da Paixão, “completam a experiência nessa viagem histórica”. A visita será acompanhada de um breve histórico do sítio tombado, além de um audioguia em cinco idiomas (português, inglês, francês, espanhol e Libras – língua brasileira de sinais). Terá como trilha sonora a obra do compositor Lobo de Mesquita (1746-1805) interpretada pelo Coral Cidade dos Profetas de Congonhas.
Outra novidade a ser lançada no mesmo dia é um aplicativo para smartfones e tablets, cujo objetivo será, segundo a produtora do Era Virtual, Carla Sandim, divulgar e promover a cidade, com material dirigido aos internautas e visitante presencial.
A visita virtual será pelo portal www.eravirtual.org e, ao se preparar para uma visita presencial ao santuário, o interessado poderá baixar o aplicativo gratuitamente. “O Era Virtual – Cidades Patrimônio” visa a divulgar Congonhas, inicialmente na tela do equipamento e, posteriormente, munir o visitante de uma ferramenta que o guie pelo núcleo tombado durante uma visita presencial”, afirma Rodrigo Coelho, coordenador do projeto. O presidente da Fumcult adianta que, de forma inédita no país, a cidade dos profetas também vai receber um processo de requalificação do seu patrimônio.

Bicentenário – 
Congonhas se tornou mundialmente conhecida por guardar a obra-prima do “mestre do barroco”: os Passos da Paixão de Cristo e os 12 profetas em pedra-sabão. O cenário reconhecido pela Unesco será palco de atrações gratuitas. As artes cênicas terão um momento especial na programação com a estreia do espetáculo Aleijadinho: criador e criatura, de José Félix Junqueira e direção de Kalluh Araújo. A peça é uma livre interpretação de artistas de Congonhas do Grupo de Teatro Dez Pras Oito.
Programação em Congonhas
sábado
9h – Abertura da exposição Aleijadinho 200 Anos: Tributo de Bracher, no Museu de Arte Sacra e Mineralogia da Romaria
Dia 8/11
11h – Concerto do Coral Cidade dos Profetas, na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos
Dias 13, 14 e 15/11
20h30 – Peça teatral Aleijadinho: Criador e Criatura, de José Félix Junqueira, no Cine Teatro Leon. Direção de Kalluh Araújo
Dia 16/11
20h30 – Show com Lô Borges, na Estação Ferroviária
Dia 17/11
10h – Lançamento da Visita Virtual e Aplicativo de Congonhas no endereço eletrônico www.eravirtual.org
Dia 18/11
18h – Ciclo de Palestras sobre Aleijadinho. Convidados: historiador Alex Fernandes Bohrer, artista plástico Carlos Bracher e jornalista Mauro Werkema
20h – Lançamento do livro Aleijadinho 200 Anos, organizado por Paulo Lemos e estreia do documentário Nos Passos de Aleijadinho
Dia 23
20h – Projeção no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos do documentário Nos Passos de Aleijadinho
Por Gustavo Werneck
Fonte: em.com.br / Defender

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Curso de Verão - Preservação e uso do Patrimônio histórico: um estudo de caso


Museu de Arte Sacra de São Paulo e a Faculdade de São Bento abrem inscrições para o curso “Preservação e uso do Patrimônio Histórico: um estudo de caso", com 12 dias de duração.

O curso visa introduzir profissionais e estudantes interessados na preservação do patrimônio a partir de temas técnicos de conservação preventiva de edificações do patrimônio histórico, e tem entre seus objetivos:
  • Oferecer aos alunos uma introdução a temas de conservação preventiva de edificações sob a forma de palestras e de uma atividade prática, com especialistas de diversas áreas teóricas e técnicas;
  • Promover a leitura de um bem patrimonial edificado, com atenção sobre a gestão da sua conservação;
  • Promover, como exercício, a elaboração de uma planilha de conservação preventiva da edificação em estudo;
  • Aprofundar as reflexões sobre preservação, conservação preventiva, restauro e uso de edificações patrimoniais, com base num estudo de caso.
1. Abertura: Por que a Conservação Preventiva?
2. Abordagens técnicas
  • Gestão Patrimonial e conservação
  • Usos e conservação de madeiras 
  • Identificação e controle de pragas 
  • Análise de risco de incêndio 
  • Identificação e conservação de alvenaria
  • Identificação e conservação de argamassas
  • Identificação e conservação de materiais de revestimento específicos
  • Instalações prediais
  • Segurança do trabalho
  • Noções de planejamento de obras 
3. Abordagem histórica
  • História do bem patrimonial e suas relações com a cidade
  • Trajetória do projeto e da obra de restauro na edificação em estudo
Clique aqui  para baixar a grade completa do curso.
Período: 12 a 24 de janeiro de 2015
Dias e horários: todos os dias (exceto no domingo, dia 18/01/2015) das 08h30 às 12h10 h e das 13h30 às 17h10 e sábados, dia 17 e 24/01/2015, das 8h30 às 12h10
Carga Horária: 88 horas
Inscrições: até 09 de janeiro de 2015 através do email mfatima@museuartesacra.org.br
Vagas: 40*
Valor: R$ 800 à vista
           R$ 900 em até 3x (cheques pré-datados.
           Incluso transporte as atividades externas
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo
Endereço: Av. Tiradentes, 676 - Luz | Estação Tiradentes do Metrô
Estacionamento gratuito: Rua Jorge Miranda, 43
Informações: (11) 5627.5393
*Mínimo de 25 participantes para que o curso seja concretizado
Trabalho Final
Como trabalho de curso, será exigido de cada grupo de alunos, a elaboração de uma planilha de conservação preventiva do imóvel objeto do estudo de caso (Casa do Administrador do Parque da Luz). Para tanto, no sábado dia 24 de janeiro, os grupos de alunos gerarão uma planilha-síntese do curso que será oferecida à administração do parque (DEPAVE/SVMA/PMSP) para ser aplicada como base ou em sua totalidade, para a conservação da  Casa do  Administrador.
Ao final das atividades, os alunos receberão certificado assinado pelo Museu de Arte Sacra de São Paulo e pela Faculdade São Bento, valendo considerar que este certificado será emitido apenas aos alunos que cumprirem os requisitos obrigatórios do curso: a apresentação final (por grupo) da planilha de conservação e a presença obrigatória em todas as atividades, sendo admitida ausência em apenas um dos períodos. 

Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz é marco de Itaporanga, SP

Fiéis de todo o país vão até o local em busca da aproximação com Deus.

Além do trabalho com os fiéis, monges e padres são formados no local.

Arquitetura da frente da abadia têm estilo rústico (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)Arquitetura da frente da abadia têm estilo rústico (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)
Paz espiritual. Esse é o estado de espirito que os visitantes da Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz, em Itaporanga (SP), procuram. Pessoas de todo o país buscam as orientações e o silêncio oferecidos no local.
Construído a partir do ano de 1936 por monges da Europa, o prédio da abadia serve de espaço para realização de missas, hospedaria e a formação de monges e padres. Projetado por um arquiteto alemão, o espaço com 8.540 metros quadrados impressiona pelo tamanho e beleza. O local, inaugurado no ano de 1965, abriga uma igreja e um mosteiro da ordem de São Bento.
Retrato de Dom Athanazio (Foto: Reprodução/TV TEM)Retrato de Dom Athanazio (Foto: Reprodução/TV TEM)
De acordo com o padre Roberto Xavier Fernandes, o local foi construído graças à fuga de Dom Athanazio, em conjunto com outros monges, da Alemanha Nazista. Ainda segundo Fernandes, eles também contribuindo com a obra fazendo os tijolos do espaço. “Dom Athanazio com outros seis monges atravessaram o atlântico, chegaram na América do Norte e então chegaram aqui no Brasil”, explica.
Pelos esforços na construção do prédio, Dom Athanazio se tornou o primeiro abade de Nossa Senhora da Santa Cruz, cargo de autoridade máxima de um mosteiro. Além disso, ele é homenageado com diversos retratos nas salas da abadia.
Em uma dessas salas enfeitadas pelo retrato de Dom Athanazio, chamada sala capitular, os monges se reúnem para as leituras diárias de um livro sobre a Ordem de São Bento. O padre Fernandes conta que a clausura, viver sem o contato com o mundo exterior, é um fato para aqueles que optam por seguir a vida religiosa. O padre explica que os padres e monges se reúnem ao menos sete vezes ao dia para as orações, além de duas missas diárias.
Mosteiro da abadia é composto pelo silencio do jardim (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)Mosteiro da abadia é composto pelo silencio do jardim (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)
Porém, além do período de oração, eles são designados para tarefas rotineiras. Fernandes cita quais são as diferenças entre a função de padre e monge: “Nós temos atividades aqui que são propriamente monásticas, como trabalho manual, limpeza da casa, jardinagem, cuidar dos irmãos idosos e enfermos, a parte administrativa. Mas há algo ímpar aqui na nossa comunidade de Itaporanga, que é o trabalho pastoral com os fieis”, diz.
Além de uma igreja, um mosteiro e um jardim, um cemitério existe no local (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)Além de uma igreja e um mosteiro, um cemitério
existe no local (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)
No local também é mantido um cemitério próprio para os padres e monges que dedicaram suas vidas à abadia. O padre João Batista Alves Carreiro conta que por todos os esforços e problemas encontrados na vida dedicada ao monastério, exercer esse cargo é uma vocação divina. “O prazer de ser padre é tão intenso, que as palavras nunca vão conseguir dizer”, afirma.
A manutenção do local é feita através das doações de fiéis, de uma pequena loja de artigos religiosos e da hospedaria, que recebe devotos em busca de um retiro espiritual ou que procuram conhecer melhor a vida religiosa.
Jardim da abadia é desfrutado pelos visitantes, monges e padres (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)Jardim da abadia é desfrutado pelos visitantes, monges e padres (Foto: Giliardy Freitas/TV Tem)
Para participar da experiência não há um preço fixo, sendo que cada um ajuda com a quantia que puder. O seminarista Valmir Carvalho cita que está fazendo um retiro com outros cinco companheiros. “Nós estamos num grupo de cinco para fazermos um retiro, para a profissão dos votos de um de nossos noviços e daqueles também que vão ingressar no noviciado”, conta.
Quarto onde os visitantes ficam hospedados (Foto: Reprodução/TV TEM)Quarto onde os visitantes ficam hospedados
(Foto: Reprodução/TV TEM)
Os visitantes do local também encontram um contraste no âmbito da arquitetura. Do lado de fora da abadia, o que se vê é uma arquitetura rustica, com um prédio que lembra um castelo medieval, enquanto dentro o que se encontra é uma arquitetura moderna e grandiosa. “É um privilégio ter essa igreja em Itaporanga, porque é a terceira maior da América Latina”, cita o autônomo Hudson Torigoe de Moura.
Seja no silêncio do jardim em estilo românico, ou no som das missas lotadas de domingo, os fiéis afirmam que no local eles conseguem encontrar a paz que procuravam quando entraram na abadia, como afirma a funcionária pública Flavia Aparecida Bascaro. “É um lugar que transmite muita paz. A gente se sente em paz e muito perto de Deus quando entra aqui”.
Igreja da abadia têm arquitetura em estilo moderno (Foto: Reprodução/TV TEM)Igreja da abadia têm arquitetura em estilo moderno (Foto: Reprodução/TV TEM)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Eis, ao cristão, a cruz

autor: Pablo Neves, designer especialista em arte sacra | Mestrando em Design


A todo cristão vale a doutrina básica de que Nosso Senhor e Salvador Jesus é o verbo de Deus encarnado, em tudo igual a Deus e em tudo igual ao homem, exceto no pecado, que por nós morreu e ressuscitou. Assim, Deus não é para nós algo distante ou invisível, haja vista que em Cristo contemplamos a segunda pessoa da Trindade, que é um só com o Pai e o Espírito Santo. Portanto, para nós cristãos, Deus é também tangível, é passível de ser tocado ao mesmo tempo que é adorado em toda sua dimensão, por exemplo, na Santíssima Eucaristia, que é verdadeiramente o Cristo em corpo, alma e divindade.

Nenhum objeto material é santo por si mesmo, mas é santificado pela misericórdia de Deus no momento em que começa a fazer parte das coisas do alto, ou seja, quando começa a ter parte com o céu, o qual pertence a Deus. Ora, tudo aquilo que então tange o sagrado é automaticamente “sacralizado” por fazer parte diretamente do mistério divino, por mais simples ou controverso que seja sua matéria ou simbologia.

Como é possível que duas simples barras que se cruzam possam nos dizer tanto? Como um símbolo de punição e morte pode converter-se em sinal de salvação e vida? Ora, na cruz tudo é consumado, todo o Amor de Deus pela humanidade é escancarado pelos séculos dos séculos, fazendo com que o madeiro da cruz deixe seu posto de sentença aos criminosos e se eleve a um verdadeiro marco donde é derramada a redenção para a humanidade.

Contemplar a cruz é, portanto, contemplar onde se deu o verdadeiro duelo entre a vida e a morte, no qual Nosso Senhor Jesus Cristo venceu e triunfou por Amor, derrotando a morte e o pecado. A cruz é para todo cristão o símbolo maior do Amor de Deus para conosco, não pelo objeto em si, mas por todo mistério nele realizado, pela vitória nela alcançada por Cristo a qual nenhum outro objeto material já existente neste mundo ou em qualquer outro pode abrigar. Somos todos marcados pela cruz e carregamos a vitória nela alcançada através de nosso batismo.

Tratar a cruz como um símbolo é primeiramente entender que a palavra “símbolo” quer justamente dizer “ação de unir”. Todo símbolo nos remete a um significado e nos transfere a uma realidade atemporal, tornando-nos comuns àquilo que representa, quando compreendemos, evidentemente, seu significado. Sendo símbolo do sacrifício de Nosso Senhor e Salvador, a cruz é um elo visível entre todo cristão e o próprio Cristo, que se deu na cruz por todos nós. Ela nos une a todo mistério da salvação, ao evangelho, a toda igreja e a todas as pessoas que creram, creem e crerão em Cristo como Nosso Senhor e Deus até a consumação dos tempos. Toda a igreja se encontra na cruz, independente do tempo ou da circunstancia, do contexto cultural ou político, ela assinala nossas vidas em tempos de paz ou tribulação, ela nos dá esperança, nos abençoa e nos guia, por exemplo, pelas mãos do sacerdote que a traça sobre nós agindo na pessoa do próprio Cristo.

Toda cruz é formada basicamente por duas barras que se cruzam num ângulo de 90º. Há, entretanto, diversos modelos de cruzes que variam em seus elementos, enriquecidas através dos tempos pela arte sacra, pela arquitetura e atualmente, inclusive, pelo design, nesse último caso em propostas visuais contemporâneas que buscam enaltecer o caráter tão antigo, porém sempre tão novo da mensagem evangélica. Entretanto, toda representação da cruz obedece (e deve obedecer) sempre à formatação básica de duas barras cruzadas, possuindo às vezes até outras barras como forma de evidenciar sua pretensão simbólica, que podem, sem detrimento algum de sua essência, variar de acordo com a tradição artística e litúrgica do contexto no qual a mesma está inserida.

É o caso da cruz eslava, também conhecida por cruz de oito braços, bastante comum nas igrejas de tradição bizantina, onde cada barra horizontal possui um significado distinto, porém que se complementam formando uma única mensagem. A barra superior simboliza a inscrição sobre a cabeça de Jesus, a central (e maior) onde as mãos de Jesus foram pregadas e a inferior o apoio onde foram pregados os pés do Senhor.



Cruz eslava

Outra variação de modelo de cruz bastante curiosa é a chamada “cruz copta”, tradicionalmente utilizada pelos cristãos do Egito. Cada extremidade dos braços da cruz possui três pontas, simbolizando a Trindade, somando ao todo doze pontas que remetem aos doze apóstolos, aos quais foi confiada a Igreja e a pregação do Evangelho até os confins da terra. É notório que a diversidade de tradições cristãs incrementou o formato básico da cruz, como forma de enfatizar toda a riqueza simbólica impregnada nela, por talvez muitas vezes tal riqueza não apresentar-se de forma clara, porém em si não menos verdadeira. É como se cada formato ou variação de elementos quisesse expor ainda mais a riqueza intrínseca à forma básica da cruz, fazendo com que a mesma, na sua diversidade, seja constantemente enriquecedora para nós em simbolismos, tocando profundamente nossa fé e nos catequizando dia após dia.



Cruz copta

Envergonhar-se da cruz é envergonhar-se do próprio Cristo, de modo que toda relação com a cruz, quer contemplando-a, usando-a como um pingente ou pendurada na sala de casa, quer traçando-a sobre nossa fronte ou sobre a testa dos que amamos, enfim, carregar a cruz em nossas vidas revela nossa íntima relação com aquilo que cremos, afirmando constantemente, como bem lembrou o salmista, sermos sondados por Deus na plenitude de nossas vidas, por todos os lados e em todas as circunstancias. É confessar constantemente que Deus já nos conhecia antes mesmo de sermos gerados e que Nosso Senhor nos amou primeiro, na cruz entregando-se, amando-nos e salvando-nos.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Mater Ter Admirabilis

O núcleo de Schoenstatt é constituído pela Aliança de Amor com Maria. O traço mariano talvez é o que mais se conheça em Schoenstatt. Como na imagem de graças de Schoenstatt, também em sua espiritualidade mariana se destaca a relação de Maria com Jesus, a "biunidade". Ela é a grande Portadora de Cristo aos homens, a companheira e colaboradora permanente de Cristo, o Redentor, em toda a obra da salvação.
A grande graça que se pede a Maria em Schoenstatt é a graça de assemelhar-se a Ela. Maria é o conceito incorrupto de Deus sobre o homem, a mulher plenamente humana, mas configurada em Cristo, colaboradora no plano do Pai, que nos convida a construir livre e ativamente o seu Reino.

Qual é a origem da imagem da MTA?
Nos anos de 1914 - 1915 os primeiros congregados buscavam uma imagem adequada da Virgem Maria para a sua capela. Um professor do colégio os presenteou com uma reprodução litográfica de um quadro do pintor italiano Luigi Crosio. No início, esta imagem não os agradou muito, já que para alguns não lhes agradava desde o ponto de vista estético. Como não tinham dinheiro para comprar outra, colocaram esta imagem na capela no dia 19 de agosto de 1915. Desde então permaneceu sempre no Santuário.
Originalmente a imagem tinha o nome de "Refugium peccatorum", "Refúgio dos pecadores". No entanto, os estudantes de Schoenstatt descobriram um título com o qual se identificavam mais por sua própria história: Mater Ter Admirabilis, Mãe Três Vezes Admirável. Em meados do ano de 1916, começou-se a venerar a imagem da Santíssima Virgem no Santuário de Schoenstatt sob este título. "MTA" (como muitas vezes é chamada em Schoenstatt) é a abreviação do título em latim: "Mater Ter Admirabilis". Seu significado gramatical viria a ser "Mãe muito admirável". Posteriormete, explicou-se o título de forma simbólica, por exemplo: Ela é Três Vezes Admirável como Mãe de Deus, Mãe do Redentor e Mãe dos redimidos; ou então, Admirável por sua fé, seu amor e sua esperança, etc.


Fonte: Schönstatt

sábado, 25 de outubro de 2014

Mostra recupera história do Museu de Arte Sacra de Angra dos Reis

Primeiro museu da cidade completa 22 anos
O primeiro museu público de Angra dos Reis está completando 22 anos de fundação em 2014. O Museu de Arte Sacra, instalado nas dependências da igreja de Nossa Senhora da Lapa e Boa Morte, no Centro da cidade, foi fundado em 1992 a fim de reunir o acervo sacro da cidade. 
Para marcar a data e contar um pouco desta história, a Prefeitura de Angra, por meio da Fundação Cultural (Cultuar), abriu ao público a exposição ‘O museu no museu‘.

 A mostra conta a história do museu, desde a criação, já no final da gestão do ex-prefeito Neirobis Nagae (89-92). Construída em 1752, a igreja da Lapa e Boa Morte foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1954. 

- Esta exposição é um marco simples para celebrar a existência do primeiro museu de Angra. Infelizmente, por cinco anos, o Museu de Arte Sacra ficou fechado, mas, por determinação da prefeita Conceição Rabha, trabalhamos muito para devolver o espaço para a comunidade no ano passado - disse Délcio Bernardo, presidente da Fundação Cultural.

 Em função da riqueza do seu acervo, o Museu de Arte Sacra de Angra dos Reis é considerado um dos mais importantes do estado. Seu acervo reúne cerca de 3 mil itens, distribuídos em coleções de imaginária (figuras humanas bordadas ou pintadas), prataria e indumentária, que datam entre os séculos XVII ao início do século XX.

 As peças do museu angrense são oriundas das irmandades já extintas do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora do Rosário, de São Miguel e Almas e de Nossa Senhora da Conceição; das igrejas localizadas na Ilha Grande, Mambucaba, Ariró, Bracuí, Ribeira e Jacuecanga, assim como do culto doméstico das famílias cristãs católicas, que fez surgir imagens de cunho popular tradicional na região.

 Na mostra comemorativa, é possível encontrar duas das peças mais valiosas do museu: uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, do século XVII, em terracota (barro cozido), e outra, de Nossa Senhora da Conceição, do século XVIII, usada na procissão da padroeira da cidade em dezembro. 

Os interessados podem visitar a exposição até a primeira semana de fevereiro, de quarta-feira a domingo, das 10h às 12h e das 14h às 17h. A entrada é gratuita. O Museu de Arte Sacra da Igreja da Lapa e da Boa Morte funciona na Rua Dr. Bastos S/N, Centro de Angra. 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Exposição: Luz, cedro e pedra – Esculturas do Aleijadinho fotografadas por Horacio Coppola


O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro abriu no dia 23 de outubro a exposição Luz, cedro e pedra – Esculturas do Aleijadinho fotografadas por Horacio Coppola, com 81 imagens feitas pelo fotógrafo argentino nas cidades mineiras de Congonhas do Campo, Sabará e Ouro Preto em 1945. A mostra tem curadoria de Luciano Migliaccio, professor do departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU/USP.
Horacio Coppola (1906-2012) é figura central da fotografia latino-americana do século XX. Sua vocação artística manifestou-se já no final da década de 1920, quando presidiu o primeiro cineclube argentino. Em 1930, pu­blicou duas fotografias na primeira edição doEvaristo Carriego, de Jorge Luis Borges, e, em 1931, estampou um ensaio fotográfico na revista Sur. Nessa mesma época, fez a primeira de suas viagens de formação, rumo à Europa, de onde retornou com sua primeira câmera Leica. Coppola complementa­ria seus estudos de fotografia com duas outras viagens: em 1932-1933, à Alemanha, quando frequentou os cursos de Walter Peterhans na Bauhaus, e colaborou com as fotó­grafas Ellen Auerbach e Grete Stern; e, em 1934-1935, a Paris e a Londres, onde se casou com Stern.
Foi durante seus anos de formação que surgiu o gosto pela escultura pré-moderna e mesmo arcaica. Esse espírito de redescoberta certamente motivou mais uma de suas viagens, desta feita a Minas Gerais, em 1945, em busca da obra de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), compreendido por Coppola como artista integral, isto é, arquiteto, escultor e “ornamentista sacro”. As referências que podem ter levado Coppola ao artista mineiro naquela época vão de artigos dos poetas Jules Supervielle e Ramón Gómez de la Serna, respectivamente em 1931 e 1944, ao livro do brasileiro Newton Freitas, El Aleijadinho, publicado tam­bém em 1944 na Argentina.
Para o curador Luciano Migliaccio, fotografar esculturas é uma questão de pontos de vista, sobretudo quando se trata das esculturas de Aleijadinho, que sempre foram parte de um grandioso teatro religioso. “Coppola compreendeu muito bem o caráter decorativo intrínseco à poética do escultor brasileiro”, explica.
Horacio Coppola voltou para Buenos Aires com um rico acervo de ima­gens que, dez anos mais tarde, expôs nos salões da asso­ciação Amigos del Libro e publicou no livro Esculturas de Antonio Francisco Lisboa O Aleijadinho (Buenos Aires: Ediciones de La Llanura, 1955). Em 2007, mesmo ano em que inaugurou a exposição Horacio Coppola  Visões de Buenos Aires, o Instituto Moreira Salles incorporou a suas coleções 150 dessas imagens. 

Luz, cedro e pedra – Esculturas do Aleijadinho fotografadas por Horacio Coppola
Visitação: 23 de outubro de 2014 a 4 de janeiro de 2015
 
De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada franca
Visitas monitoradas para escolas: agendamento pelo telefone (21) 3284-7400

Local

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/(21) 3206-2500

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

El restaurador de la Capilla Sixtina alaba las obras de la iglesia de San Nicolás

Se prevé que los trabajos culminen unos meses antes de la fecha inicial, prevista de enero de 2016

El restaurador de la Capilla Sixtina, Gianluigi Colalucci, ha alabado este martes los trabajos que se están realizado para recuperar los frescos de Dionís Vidal de la Iglesia de San Nicolás, que se prevé que culminen unos meses antes de la fecha inicial prevista de enero de 2016.
Colalucci ha visitado este martes este proyecto llevado a cabo por laUniversidad Politécnica de Valencia (UPV) y el Arzobispado con apoyo de la Fundación Hortensia Herrero, que ha aportado 2,5 millones de euros al proyecto de restauración general del templo, cerca de un millón correspondientes a la fase actual.
Al respecto, ha destacado que esta restauración está permitiendo " ver una obra de arte muy interesante" del pintor de Dionís Vidal, encargado de ejecutar el programa pictórico que ideó su maestro Antonio Palomino a finales del siglo XVII gracias a una "restauración bien hecha". "No es fácil pero aquí la restauración muy bien hecha", ha alabado.
En ese sentido, ha resaltado que le gusta "muchísimo" estos frescos que demuestra "el carácter y un sentido muy fuerte de la decoración" de Vidal a pesar de que "no era fácil decorar esta pintura". De este modo, con este proyecto Valencia redescubre "una nueva riqueza" porque antes de estas obras "no se veía nada" y "ahora se contempla una maravillosa pintura".
Por su parte, la investigadora del Instituto de Restauración del Patrimonio de la UPV y directora del proyecto, Pilar Roig, ha destacado que las obras "van perfectamente" y que "se están cubriendo sobradamente" los plazos establecidos con lo que espera que concluyan en noviembre o diciembre de 2015.
Roig ha explicado que ya se desmontó el andamio de la primera crujía, que ya se puede ver desde abajo, y que el 4 de noviembre se quitará el de la segunda crujía y se está empezando con la tercera. De este modo, el público que entre podrá observar la evolución de la restauración y comprobar "lo sucio" que estaban las pinturas y su estado original. En total, son seis crujías.
Los frescos de esta iglesia, cuyo origen era una mezquita que se reconvirtió en un templo cristiano en el siglo XIII tras la llegada a la ciudad de Jaume I el Conquistador, datan de 1697 y principios de 1700. Así, ha señalado que se ha encontrado una inscripción anno 170 y falta la última cifra que se calcula que es 1.
En ese sentido, ha destacado que lo "más interesante" de este proyecto ha sido descubrir a Vidal porque "había mucho repinte" y cuando se han eliminado "sale todo el color y se descubre que estaba muy bien ejecutado técnicamente". "Es una gozada descubrir a un Dionis Vidal impresionante que domina la perspectiva, el escorzo, y el color", ha señalado.
No obstante, ha comentado que otras veces no tienen "tanta suerte" y debajo del repinte, que realizó Renau padre a finales del XIX principios del XX, "no hay nada". En estos casos, cuando el repinte es "digno" se deja porque "forma parte también de un documento para la historia".

Trabajos complicados

Asimismo, ha indicado que "lo más complicado" está resultando la consolidación ya que había unas grietas que atravesaban las nervaduras. Así, ha enfatizado que "la particularidad" de esta obra es que la estructura gótica "se mantiene tan cual". Por ello, Vidal tuvo que pintar los espacios, las crujías, los nervios, lo que hace a San Nicolás una iglesia "completamente singular".
La humedad ha sido lo que más ha perjudicado los frescos ya que las ventanas "cerraban mal y entraba el agua", así como las grietas producidas por las presiones que ejercía la torre campanario, que es de grandes dimensiones, sobre todo en la primera crujía.
Sin embargo, ha destacado el equipo "de gran nivel" que participa en los trabajos seleccionados en "un proceso durísimo" ya que tuvo quepasar por un examen teórico eliminatorio, presentar el currículum y una entrevista, que permitieron seleccionar a los 10 técnicos de "primera fila".
Además, una vez consolidados los trabajos el mismo equipo mantendrá "una restauración preventiva" colocando unos elementos para detectar cambios bruscos de temperatura y humedad y cualquier anomalía. "No se puede dejar la obra y decir me voy sino que debe seguir un mantenimiento y un seguimiento", ha resaltado.
Al respecto, ha destacado que estas obras de restauración permiten "una investigación constante" y permite la trasferencia de conocimientos y tecnologías de la universidad. "Investigación aplicada", ha señalado.

Técnica pionera

De hecho, ha resaltado que en estas obras se está aplicando de forma pionera la biolimpieza con bacterias en zonas pequeñas en las que otros productos no dan resultado. Esta técnica consiste en "educar" a bacterias en el laboratorio alimentándolas con el producto que se quieren limpiar, posteriormente aplicarlas en la zona que se quiere restaurar y luego se retiran.
Las ventajas de este sistema es que resulta muy económico, es rápido, en tres horas se completa la limpieza sin ningún resto, se elimina sin problemas y es inocuo para el restaurador, y para el medioambiente, ha resaltado.
Así, ha destacado que Valencia es pionera en esta técnica que se inició en Santos Juanes, y que se ha utilizado para limpiar "los goterones de cola" que cayeron en el siglo XIX al aplicar el barniz sin tener en cuenta los efectos de la gravedad y que no había forma de eliminar con ningún producto. "Es algo absolutamente novedoso e innovador", ha señalado.
Fonte: ABC.  VALENCIANA / VALENCIA

Com 539 obras desaparecidas, estado do Rio registra o maior número de bens culturais roubados no país

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar é o templo fluminense que foi mais vezes atacado por ladrões, diz historiador

POR BRUNO AMORIM



RIO — Uma campanha recém-lançada pela prefeitura de Duque de Caxias e apoiada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) chama a atenção para um tipo de crime frequente e, ao mesmo tempo, difícil de ser investigado: o roubo de peças de arte sacra. Ao iniciar a reforma de um templo histórico, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, o município percebeu a falta de uma imagem que leva o nome da santa, esculpida há cerca de 400 anos e com 1,80m de altura. Depois de muita procura, autoridades descobriram um registro policial de furto da estátua feito em 2001. Trata-se de uma das 539 obras que desapareceram no Rio de Janeiro, estado brasileiro com maior número de bens culturais roubados, de acordo com um levantamento do Iphan.

A quantidade de peças roubadas em território fluminense impressiona, ainda mais se for comparada com os números de outros estados: é mais que o triplo dos registros policiais feitos na Bahia (168) e em Minas Gerais (153), conhecidos pela grande quantidade de igrejas que abrigam. E as estatísticas podem ser ainda piores, já que apenas pouco mais da metade dos templos históricos do Rio teve bens inventariados pelo Iphan.

PREFEITO ACREDITA EM DEVOLUÇÃO

Ao tomar conhecimento do furto da imagem de Nossa Senhora do Pilar, uma obra cujo autor é desconhecido, a prefeitura de Duque de Caxias publicou anúncios e divulgou números para o recebimento de informações: 3552-9903, da diocese da cidade, e 2233-7462, do Iphan. Mas, por enquanto, os telefones pouco tocaram.



— Temos algumas pistas, acreditamos que um colecionador comprou a imagem. É comum obras roubadas serem vendidas e, geralmente, quem as adquire devolve. Um colecionador não quer ter em seu acervo uma peça furtada de uma igreja, pois isso põe em xeque a procedência de todas as suas obras. Especialistas me disseram que é provável que a imagem de Nossa Senhora do Pilar esteja no Brasil, porque seria muito difícil enviar uma estátua de 1,80m para o exterior — disse o prefeito Alexandre Cardoso.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar é o templo fluminense que foi mais vezes atacado por ladrões, de acordo com o historiador Raphael Fabrino. Segundo ele, além do furto da imagem de sua padroeira, a igreja teve peças de arte sacra levadas por bandidos em sete invasões, entre 1962 e 1978. Em seguida, vem a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Mambucaba, Angra dos Reis, onde houve sete assaltos entre 1978 e 1993. Já a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, no Centro do Rio, atacada quatro vezes entre 1987 e 1995, teve 264 obras roubadas. A preferência dos ladrões é por estátuas e castiçais. Apesar de ser difícil apurar quanto uma obra dessas vale no mercado negro, Fabrino acredita que bandidos podem vendê-las por milhões de reais.

— Obras que levam assinaturas de gênios do barroco como Aleijadinho e Viera Servas, ambos de Minas Gerais; Mestre Valentim, do Rio de Janeiro; e Francisco das Chagas, da Bahia, não têm preço. É importante frisar que uma peça de arte sacra em um altar de igreja representa um elo entre os moradores de uma comunidade e seus antepassados. É comum, no Brasil, que a organização de procissões e festejos em torno de uma imagem seja uma tarefa desempenhada por várias gerações de uma mesma família — destacou o historiador.

Dois cálices em prata dourada, do século XX, foram furtados em 2008 da Igreja do Mosteiro de São Bento. O paradeiro das peças é desconhecido. - Divulgação / Iphan

Como existem muitas obras de arte sacra parecidas entre si e faltam informações sobre a origem de cada uma, é preciso tomar muito cuidado na hora de comprar uma peça. Importante instrumento para pesquisas de leiloeiros e antiquários, o Banco de Dados de Bens Culturais do Iphan, criado em 1997, tem milhares de obras cadastradas. No entanto, nem todas as peças roubadas constam de seu sistema. O furto da imagem de Nossa Senhora do Pilar, por exemplo, não havia sido comunicado ao Iphan.

Segundo o superintendente do instituto no Rio, Ivo Barreto, medidas vêm sendo tomadas para reprimir a venda de peças de arte sacra no mercado negro.

— Estamos fazendo um cadastro de leiloeiros e antiquários para ter um controle mais rígido do trabalho desses profissionais. E quem quiser sair do país com peças do período pré-republicano deve pedir autorização ao Iphan para a viagem — informa Barreto.

Os esforços para conter os crimes aumentam, mas o acaso ainda é um forte aliado de quem procura obras roubadas. Um exemplo disso é a recuperação de uma imagem de São Francisco, do século XVII, que estava desaparecida desde 1955. Ela foi encontrada em 2009, quando o frei Roger Brunório foi ao cinema e a reconheceu no cenário do filme ‘‘A guerra dos Rocha’’. A Polícia Federal achou a peça em um antiquário do shopping Cassino Atlântico, em Copacabana, e a devolveu ao Convento de Santo Antônio.


Fonte: O GLOBO

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Agenda de Concertos Regulares - Órgão da Sé Outubro de 2014 (Mariana)


Elisa Freixo | Foto: Eduardo Tropia
Órgão da Sé - Mariana

24/10 - sexta-feira - 11h30
Elisa Freixo

26/10 – domingo - 12h15
Não haverá concerto - Eleições

Órgão da Sé - Mariana
Foi construído na primeira década do século XVIII, em Hamburgo (Alemanha), por Arp Schnitger (1648-1719), um dos maiores construtores de órgãos de todos os tempos. O instrumento foi enviado inicialmente a uma Igreja Franciscana em Portugal e chegou ao Brasil em 1753, como presente da coroa portuguesa ao primeiro Bispo de Mariana.
Reinaugurado em 1984, o Órgão Arp Schnitger é um dos atores principais da vida musical de Mariana, acompanhando missas e celebrações litúrgicas, além de ser apresentado em concertos regulares e internacionais, que traz ao Brasil organistas de renome mundial.

Os Concertos Regulares do Órgão Arp Schnitger acontecem às sextas-feiras, às 11h30, e aos domingos, às 12h15, na Catedral da Sé em Mariana/MG. Ingressos a partir de R$ 28,00. Para agendar grupos e ter mais informações, entre em contato pelo telefone  (31) 3558-2785  ou pelo e-mail orgaodase@uai.com. O site do projeto de concertos é www.orgaodase.com.br.

Órgão da Matriz de Santo Antônio - Tiradentes
Reinaugurado a 7 de fevereiro de 2009, o órgão da Matriz de Santo Antônio enche de novo a cidade de Tiradentes/MG com sua bela sonoridade. Exemplar do século XVIII, o órgão daMatriz foi encomendado em 1785 ao organeiro português Simão Fernandes Coutinho, na cidade do Porto. A Vila de São José do Rio das Mortes, nossa atual Tiradentes, vivia a efervescência musical do período barroco e o órgão acompanharia a liturgia e as celebrações familiares. Restaurado agora de modo pleno, o órgão da Matriz de Santo Antônio é motivo de orgulho. Voltou a ser um dos centros da vida comunitária, religiosa, cultural e musical da cidade de Tiradentes

Os concertos no Órgão da Matriz de Santo Antônio acontecem às sextas-feiras, às 20h. Ingressos a R$ 30,00 e R$ 20,00 (para idosos e estudantes com carteira)

Órgão do Museu Regional - São João Del Rei
O Órgão de tubos de São João Del Rei volta a funcionar depois de 80 anos de silêncio. Depois de um minucioso trabalho de restauro, o antigo órgão de tubos do acervo do Museu Regional da cidade, unidade do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), volta a fazer parte da cena musical de São João Del Rei e do circuito histórico de Minas Gerais. O órgão foi restaurado sob a coordenação técnica da organista Elisa Freixo. Fabricado no final do século XVIII, em São João Del Rei, o instrumento é o único de origem civil em funcionamento que foi confeccionado no Brasil, com técnicas e matérias-primas locais. 

Entrada franca. São 70 lugares. 

Toda essa história continua viva por causa do trabalho incansável das organistas Elisa Freixo e Josinéia Godinho, responsáveis pela manutenção dos dois instrumentos.

Breve Guia de Apreciação do Barroco Mineiro


O Barroco

A palavra Barroco vem do termo português empregado para uma espécie de pérola de formato imperfeito, representando a sinuosidade, a dança entre simetria e assimetria, o jogo que confunde o falso com o verdadeiro. A definição de barroco não se estende apenas as artes plásticas, mas define um momento único do pensamento humano, englobando literatura, música e arquitetura. Compreender o barroco é conhecer a alma de Ouro Preto. Se você quer conhecer mais sobre este estilo e visitar as igrejas de Ouro Preto e região, fiz um pequeno guia para ajudar sua jornada:

Historicamente o barroco nasceu na Itália por volta de 1600, como parte do movimento de Contra-Reforma, em prol da reafirmação da fé católica como religião a ser divulgada e estabelecida no Novo Mundo. A liberdade da forma barroca se contrapõe a rigorosidade dos reis e da Igreja. O fascínio do barroco vem daí, da dualidade de sua natureza, forjado no coração de uma sociedade opressora e por isso mesmo livre e gracioso.


Lutero e a Reforma Protestante foram o estopim do nascimento do barroco.

A Contra-Reforma foi uma resposta da Igreja Católica ao movimento da Reforma Protestante iniciado por Martinho Lutero em 1517, e visava reafirmar os valores Católicos de religião oficial do Ocidente. Pregava o poder da imagem sobre os fiéis, a reafirmação dos ritos católicos e estimulava a imaginação dos artistas que trabalhavam para a igreja a criarem obras cada vez mais emocionantes e carregadas de simbolismo.

Alguns reis portugueses possuíam profundo entusiasmo pelo estilo, estimulando a construção de palacetes e capelas cada vez mais exageradas, tanto que a primeira fase do barroco, aquela mais rocambolesca e carregada em detalhes em ouro, ainda é conhecida como estilo d. João V devida às extravagâncias típicas deste monarca.



Convento de Mafra, em Portugal. Obra máxima do exagero de D. João V.

Curiosidades: D. João V ocupou o trono de 1706 a 1750 e em seu reinado tentou a todo custo ser uma versão portuguesa do Rei Sol Luis XIV. Construiu uma doca no Tejo toda em mármore, ergueu palacetes forrados a ouro em toda a costa portuguesa e entre 1730 e 1739 distribuiu lingotes de ouro a quase todas as casas reais da Europa em mostra de zelo e amizade. Numa entrada triunfal em Roma, d. João atirou moedas de ouro aos pobres nas ruas. Para a igreja de São Roque de Lisboa mandou construir uma capela itinerante toda em ouro e mármore das mais espetaculares da história. Na igreja de São Francisco do Porto, só nos altares, foram gastos mais de 200 quilos de ouro, fora as pedras preciosas. O convendo de Mafra, sua obra mais colossal, possui 880 salas e quartos, 4500 portas e janelas, 154 escadarias e 29 pátios, além de uma biblioteca com mais de 40.000 títulos.


O Barroco Mineiro

Em Minas Gerais o Barroco encontrou o seu mais aprazível terreno. Isolado dos portos e da capital colonial, tinha forte influencia da igreja e estreita relação com o Rei, que mesmo a milhares de quilômetros dali, mantinha os olhos e o coração voltados para aquela região que lhe era a mais cara de todas. Para alguns o barroco mineiro teve curta duração, indo de 1730 a 1760, sendo logo em seguida sucedido pelo rococó. Para outros o Rococó é em si uma extensão do barroco, numa forma mais leve e evoluída. De fato Barroco e Rococó dividem elementos em comum, porém o que os diferenciam de maneira decisiva é a mentalidade por trás dos homens que realizaram suas obras. Se no período Barroco o artista usava as composições para representar a dor, penitência, abnegação e devoção cega, no período Rococó o sentimento era de júbilo, festa e graciosidade. Sobre o Rococó temos a definição precisa da historiadora Myriam Andrade Ribeiro:

“Em um ambiente de luxo refinado, no qual as cintilações douradas dos ornatos são postas em evidencia pelos fundos claros ou em tonalidades suaves, os efeitos pictórios se unem aos da talha e azulejos configurando uma decoração suntuosa, simultaneamente leve e graciosa, destinada a produzir uma sensação básica de bem-estar que predispõe à oração na esperança e na alegria, mensagem de serenidade que caracteriza o rococó religioso em oposição ao barroco, dominado pelos efeitos dramáticos e um sentimento trágico de existência.”





Exemplo de evolução de um altar barroco, a esquerda, e rococó, a direita. Foto: IPHAN.

Uma igreja era realizada em etapas de contratação por serviço. Pedreiros, canteiros cuidavam das bases, seguidos de carpinteiros, marceneiros, talhadores e escultores e pintores. Eram chamados os louvados, pessoas de reconhecido bom gosto e apuro estético para julgar e corrigir eventuais falhas. Não se consideravam os pintores e escultores, classe onde entravam nomes como Aleijadinho e Ataíde, melhores ou superiores do que os pedreiros e mestre de obras, uma vez que a ornamentação artística do templo era vista apenas como mais uma etapa da construção.


Capela de São João, a primeira de Ouro Preto. Foto do autor.

Acompanhando a evolução do estilo na Europa, o Barroco Mineiro coincide com o auge da extração do ouro nas Minas Gerais. A arquitetura civil mantém sua forte inspiração na casa portuguesa, enquanto a arquitetura religiosa desenvolve-se livremente de acordo com os materiais disponíveis.
Diante da competição das Ordens Terceiras, em especial as do Carmo e São Francisco, criam-se modelos e estilos cada vez mais ousados e harmoniosos. A planta da igreja divide-se nos seguintes setores: nave (para os fiéis), capela-mor (onde eram realizadas as cerimônias sagradas), sacristia (onde eram guardados os aparatos), torre (que poderia ser isolada do corpo da igreja ou integrada a ela) e capelas laterais (onde ordens menores e confrarias mantinham seus altares).

O barroco mineiro diferencia-se do europeu em três quesitos: simplicidade no esquema construtivo, atuação de artistas leigos ou sem formação oficial e forte influência da arquitetura do norte de Portugal e do Sul da Alemanha. A influência alemã se dá pela popularidade deste estilo, mais claro e funcional.

Assim a igreja barroca evolui da capela de modelo quadrado simples com torres em anexo, a exemplo das capelas primitivas de Ouro Preto, para igrejas de fachada unificada com a torre. Primeiro surgem igrejas de frontão simples, como a Sé de Mariana. Os elementos são quadrados, o corpo da igreja se resume a um retângulo, a fachada é reta e alta. Em Ouro Preto as matrizes do Pilar e de Antonio Dias refletem esta primeira fase. São como enormes caixas de alvenaria, sem leveza em sua volumetria, ornadas internamente com talha carregada e exageradamente dourada. São gastos quilos de ouro em folhas para o douramento de altares, frisos, anjos e pórticos. Este é um período de formação de profissionais da região. Até então todas as obras eram realizadas por mestres portugueses. Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, Jose Fernandes Alpoim, Antonio Pereira de Souza Calheiros e outros, passariam adiante as técnicas que seriam empregadas e modificadas por diversos outros arquitetos e projetistas nos trabalhos seguintes.


Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, símbolo da evolução do Barroco Mineiro. Foto do autor.


Num segundo momento o barroco ganha certa leveza, ainda apegada ao exagero e ao peso do período inicial. Em meados de 1750, influenciado pelos arquitetos italianos Lorenzo Bernini e Francesco Borromini, o barroco mineiro incorpora desenhos curvos e torres levemente recuadas, composições que integram a igreja ao espaço em volta. As igrejas do Rosário e de São Pedro em Mariana são os dois exemplos do uso da planta elíptica.


Detalhe da decoração da Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto. Barroco em sua forma mais plena. Foto do autor.

A necessidade de curvas e leveza e a falta de pedras ditas nobres como o mármore levaram a utilização da pedra-sabão na decoração dos templos. A pedra-sabão era abundante, de fácil manuseio e criava efeitos graciosos nas composições decorativas. Quando a técnica ganha mais refinamento, a pedra-sabão passa a ornamentar a parte externa dos templos, e no caso excepcional do Santuário de Congonhas, se transforma em estátuas com representação trágica.

Em meados de 1760 o ouro nas minas começa a escassear. O barroco adapta-se ao momento com desenhos mais elaborados e menos uso do ouro nas talhas. É o início do Rococó, com elementos mais leves, maior apuramento na composição e harmonia tanto externa quanto interna.

[1] Segundo Lucas Figueiredo em Boa Ventura.
[2] Para estes dados sobre o rei d. João V,Boa Ventura, de Lucas Figueiredo e sobre o convento de Mafra, Instituto de Museus e Conservação de Portugal (www.ipmuseus.pt)
[3]O Rococó Religioso no Brasil e seus antecedentes europeus, de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira. Editora Cosac Naify. 2008.


Visita da oficina do Bom Será a capela do Padre Faria, exemplo da Segunda fase do Barroco em Minas. Foto do autor.

As fases do barroco mineiro


Importante para o observador do barroco mineiro é a classificação dos períodos em que os retábulos das igrejas se enquadram. O retábulo equivale ao conjunto da talha de um altar. A terminologia sempre é complicada para o leigo, mas aqui segue um esquema básico de observação:

1ª fase - Nacional Português (de 1700 a 1730)


Principais características:

- Observe as colunas. Neste caso são colunas retorcidas (torsas) ornamentadas em profusão por motivos fitomorfos (folhas, cachos de uva) e zoomorfos (aves, geralmente pelicanos ou fênix). Essas colunas são terminadas em capitéis compósitos (em estilo semelhante ao usado na arquitetura Greco-romana).
- No topo da composição vemos o arremate (entablamento) coroado por arquivoltas concêntricas (círculos de talha em arcos). É como se o escultor repetisse o mesmo arco varias vezes, centralizando a composição de maneira muito dramática. A talha é profusa, exagerada e rica em detalhes rendilhados e motivos geométricos.

- O trono sobre o qual repousa a imagem do santo é em forma de cântaro, ou seja, como uma enorme taça.
- Na decoração vemos muitos elementos naturais e raramente figuras humanas e excesso de decoração sem espaços vazios.


Matriz de N. Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo. Um dos poucos exemplos de interior dedicado totalmente dedicado a primeira fase do Barroco em Minas. Foto do autor.

Alguns exemplos:
Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, no distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto. Possivelmente uma das poucas igrejas que exibem ainda todos os altares dentro deste estilo.
Igreja de São Bartolomeu, no distrito de São Bartolomeu, em Ouro Preto.
Capela de Santana, em Ouro Preto.
Alguns altares das Matrizes de Nossa Senhora do Pilar e de Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias, em Ouro Preto e da Catedral da Sé de Mariana.

2ª fase, estilo D. João V ou Joanino (de 1730 a 1760)

- Mais uma vez observe as colunas. As deste período são chamadas colunas salomônicas, compostas em espiral como um “S” sinuoso, frisadas, resultado da forte influencia italiana. Este estilo de coluna foi criado pelo arquiteto Gian Lorenzo Bernini para o baldaquino (uma espécie de palanque central) da Basílica de São Pedro no Vaticano e virou moda na época. As esculturas ganham caráter mais teatral e dinâmico. Todo o altar se apresenta como um palco para que entrem em cena os personagens sagrados.

- Coroamento (dossel) complexo imitando cortinas, franjas e borlas, tal como numa abertura de um palco de teatro, terminados com um beiral característico (lambrequim) que emoldura toda a composição do altar. Repare que a talha tenta imitar na madeira a leveza do tecido. Há sempre o uso de um escudo central, composto de esculturas representando a Santíssima Trindade além de anjos e querubins nos apoios (atlantes).

- O vão do altar, (camarim), é decorado por pilastras trabalhadas (quartelões) dando maior importância ao centro da composição. O trono, sobre o qual fica instalada a imagem do santo, é maior, mais trabalhado, em formato de degraus. O altar possui mais nichos para a apresentação de imagens de santos em suas laterais.

- A pintura (policromia) com texturas mais dinâmicas, imitando o mármore e o douramento é intenso e predominam as cores amarela, branco e mármore.

- Na decoração são usadas as famosas cabecinhas de anjos (querubins), anjos desnudos de corpo inteiro (serafins), os elementos humanos são abundantes. Aparecem as conchas e rocalhas, tão tradicionais e associadas ao barroco.


Igreja de Santa Efigênia, em Ouro Preto. Exemplo da segunda fase do Barroco Mineiro. Foto do autor.

Alguns exemplos:
Igreja de Santa Efigênia, Capela do Padre Faria e altares laterais das matrizes de Nossa Senhora da Conceição do Antonio Dias e de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Mariana.

3ª fase, Rococó ou Dom José I (1760, 1840)

- Colunas, mais uma vez. Estas agora são reta e simples, com frisos e canais dourados.

- Todo o conjunto sofre forte influencia do rococó francês e germânico, muito por causa do sucessor do trono, o rei D. José I, que empregou o estilo nos palácios e templos portugueses.

- Menos ouro. Há mais áreas brancas, imitação de mármore.

- Muitas, muitas rocalhas, conchas, perolados, algumas vezes assimétricos, transmitindo leveza e despojamento. Na decoração aparecem anjos, fitas falantes (literalmente uma escultura imitando uma fita de tecido com dizeres, quase sempre em latim) e grande quantidade de plantas, flores, folhas, ramos.

- Desaparecem as figuras humanas em toda a talha, com a excessão da obra de Aleijadinho. Anjos e santos ficam predominantemente no coroamento da composição e nas imagens centrais.

- O coroamento dos altares resulta em soluções mais elaboradas com um brasão no centro ou conjunto de imagens.

- Talha mais simples e mais organizada. É possível observar os elementos da composição individualmente, o que no barroco é quase impossível devida a profusão e sobreposição de elementos.

Detalhe do altar-mor da igreja de São José em Ouro Preto.

Alguns exemplos:
Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e São João Del Rei, Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto e São João Del Rei. Igreja de São José em Ouro Preto.

A classificação do barroco mineiro em fases ainda deixa algumas lacunas devido o fato que de muitas igrejas começavam a ser ornamentadas num estilo e eram terminadas em outro. Portanto é comum achar altares de fases diferentes dentro de um templo ou mesmo estilos diferentes num mesmo altar.

Fonte: Bom Será
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