domingo, 19 de janeiro de 2014

Terra do ouro e da fé, Caeté (MG) já está em festa pelos 300 anos

Aos pés da Serra da Piedade, a cidade, fundada por bandeirantes, completa mais um ano em fevereiro em meio a comemorações e a um grande esforço para preservar seu acervo cultural.
Uma das primeiras povoações de Minas, a antiga Vila Nova da Rainha se mobiliza para proteger seu passado.
Uma das primeiras povoações de Minas, a antiga Vila Nova da Rainha se mobiliza para proteger seu passado.

A Serra da Piedade é testemunha de uma história que mistura guerra pela posse do ouro e domínio da região das minas, igrejas barrocas com peças atribuídas a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738–1814), distritos com farta tradição cultural e vasto potencial turístico-religioso. Caeté, localizada aos pés do maciço que guarda a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, já está em festa para comemorar os 300 anos de elevação do arraial fundado pelo bandeirante Leonardo Nardez Sisão de Souza à condição de vila do ouro – a Vila Nova da Rainha, por determinação do então governador da capitania, dom Braz Balthazar da Silveira. A abertura será no dia 5 e o ponto alto em 14 de fevereiro (veja o quadro), com repique de sino, missa, apresentação de um coral de 300 vozes, show e entrega de comenda.

“Será uma comemoração cívica e cultural, que só terá sentido e grandeza com a participação de toda a comunidade”, diz o diretor da Fundação Casa de Cultura, autarquia municipal, Kleber Santos. Ele conta que estão em andamento os projetos Pintando os 300, Ciranda da Cultura, com visitadas guiadas a monumentos importantes como a Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Pelourinho, chafarizes e aos museus Regional, Farmácia Ideal, em atividade desde 1918, e Solar João Israel Pinheiro, antigo Solar do Tinoco. A expectativa é de estender as atividades ao distrito de Morro Vermelho, palco da Guerra dos Emboabas, e Serra da Piedade.

Quem chega à cidade nota logo a descaracterização do conjunto arquitetônico do Centro Histórico, com prédios centenários ao lado dos mais recentes. Kleber explica que a demolição de muitas construções coloniais ocorreu a partir da década de 1940, mas ressalta que o objetivo, agora, é valorizar o velho e o novo, mostrando que Caeté se tornou uma cidade de todos os tempos. “O contraste dá um certo charme”, acredita. Mesmo assim, o Centro Histórico vai ganhar em breve um projeto de requalificação urbana, com cabeamento subterrâneo da rede de telefonia e energia elétrica, acabando-se, finalmente, com a fiação que embaça a paisagem; instalação de lanternas para dar mais beleza e segurança, recapeamento das principais vias e outras providências.

Uma exposição fotográfica montada na Praça Dr. João Pinheiro, no Centro, leva o visitante a conhecer dois tempos da cidade: em preto e branco, estão as procissões da padroeira – Caeté tem também São Caetano como protetor–, ruas, como a Muro de Pedra, a mais antiga da cidade, onde pontifica a Igreja de São Francisco de Assis, e outras cenas, enquanto há registros coloridos dos mesmos locais hoje. “A mostra envolveu os moradores, que nos cederam retratos dos acervos particulares”, diz o diretor. Ele destaca ainda os concursos, entre estudantes, de redação alusiva ao tema, e concurso fotográfico, ambos com premiação.

Nome de Rainha – O nome Vila Nova da Rainha é uma homenagem a Maria Ana de Áustria, mulher de dom João V, que reinou em Portugal de 1706 a 1750. Ela emprestou seu nome a Mariana, primeira vila, cidade e diocese de Minas. Diante das fotos antigas, dá vontade de saber mais sobre os primeiros tempo de Caeté, cujas origens estão em meados do século 17, no início do ciclo do ouro. Segundo pesquisas, a primeira “entrada” é atribuída a Lourenço Castanho Taques, por volta de 1662. Mas foi em 1701 que o bandeirante Leonardo Nardez Sisão de Souza encontrou minas de ouro em meio às matas que os índios chamavam de “caeté”.

Os paulistas foram os primeiros habitantes e em 1704 a população era numerosa. Em 29 de janeiro de 1714, é criada a vila do ouro, sendo feita a instalação pública duas semanas depois, em 14 de fevereiro. Orgulhoso da trajetória do seu povo, o farmacêutico e proprietário da Farmácia Ideal, Antonio Maria Claret Chagas, de 67 anos, é guardião da história do município tricentenário. No estabelecimento familiar aberto desde 1918 – “comemoramos 95 anos em 28 dezembro” –, ele guarda equipamentos como o piluleiro, para fazer pílulas, e o capsulador, para cápsulas, corta-raiz, prensa, fogareiro a álcool, a placa em madeira da Pharmácia Ideal, fundada pelo tio-avô Joaquim Fernandes de Melo, livros em francês de 1890 e quadros de Santa Gema Galgani, protetora das farmácias, e de um Cristo farmacêutico.

“Nasci aqui neste lugar, era o quarto da minha mãe. Hoje, virou o cantinho da saudade”, aponta Claret para o piso do museu dentro da farmácia. Olhando a paisagem, o proprietário diz que a cidade precisa encontrar o seu destino.

“Tivemos o ciclo do ouro, da argila, da metalurgia e da mineração. E agora, Caeté?”, pergunta. Uma das saídas, acredita, está no turismo religioso, afinal, a cidade se encontra no extremo de dois caminhos: de padroeira a padroeira, entre a Serra da Piedade e o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), e o Entre Serras, ligando a Piedade ao Santuário do Caraça.

Sonhos e Ambições – Para entender os 300 anos de elevação à categoria de vila é preciso voltar no tempo, conhecer um pouco sobre os homens da época, suas ambições e sonhos. A descoberta do ouro despertou cobiça, atraiu gente de todo canto e gerou praticamente uma terra sem lei nos arraiais mineradores, no século 17 e no início do 18. Pesquisadores mostram que era uma verdadeira desordem, pois não havia autoridades e o governo se encontrava sempre distante. Para colocar ordem e normatizar administrativamente esses lugarejos, o então governador da Capitania das Minas de Ouro e São Paulo, Antônio de Albuquerque, cria, em 1711, as primeiras vilas, que, na sequência, passam a funcionar como cabeça de comarca. Até 1716, foram sete.

Dentro desse cenário, nascem Mariana, elevada à condição de vila em 8 de abril de 1711, e Ouro Preto, ex-Vila Rica, em 8 de julho de 1711 – ambas ficando à frente da comarca de Ouro Preto –, e Sabará, antiga Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará, em 17 de julho de 1711, centro da comarca do Rio das Velhas. São João del-Rei muda de categoria em 1713 e se torna sede da comarca do Rio das Mortes. Depois vem Caeté, Serro e Pitangui.

A nova condição deu às vilas uma série de avanços políticos e administrativos, como a formação da câmara de vereadores, o chamado Senado da Câmara. Como sede da comarca, receberam um juiz ordinário e a figura do ouvidor. Mas nem todos deixaram de ser arraiais por decisão espontânea de Portugal. De acordo com os autos, Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João del-Rei e Serro foram os únicos povoamentos que chegaram à condição de vila por decisão da Coroa Portuguesa. Alguns povoados, como Pitangui, foram elevados por pedidos dos paulistas que estavam na região. A solicitação, no entanto, não implicava resposta positiva, já que o governador da capitania poderia aprová-lo ou não.

É bom lembrar que, em pleno século 18, os arraiais não apresentavam o menor sinal do que são hoje as cidades do circuito do ouro. Eles eram formados por ranchos cobertos de sapé. Por Gustavo Werneck

Programação – Festa Cívica e Cultural

14 de fevereiro
» 6h – Repique de sino no município e distritos
» 9h – Hasteamento de bandeiras com participação de bandas de música
» 9h30 – Missa em ação de graças celebrada pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e padres de Caeté, na Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso
» 11h – Encenação do ato de elevação a Vila Nova da Rainha com participação de um coral de 300 vozes. Entrega de comendas
» 20h – Shows na área externa do ginásio poliesportivo. Durante todo o dia, haverá exposições e apresentação de artistas locais

Fonte: em.com.br

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