Contraste é o que se vê entre as fortes cores dos quatro painéis fixados no muro e a histórica fachada do prédio erguido na virada do século 18 para o século 19 - tendo como mestre de obras Frei Galvão, hoje canonizado como o primeiro santo brasileiro. Trata-se da primeira de uma série de ações previstas para este ano com o objetivo de rejuvenescer a imagem do Museu de Arte Sacra, no bairro da Luz, região central de São Paulo.
Assinados pelos artistas Celso Gitahy, Jaime Prades, John Howard e Ozi, os painéis foram pintados anteontem. 'Com essas intervenções, conseguimos falar com a população jovem, moderna e atual. Precisamos mostrar que o museu não é 'só santinho'', afirma José Marçal, um dos conselheiros da instituição.
A iniciativa, entretanto, desagradou a alguns conselheiros. 'Quem circular pela Avenida Tiradentes verá uma sucessão de painéis interferindo desastrosamente na imagem do mosteiro', diz um deles, o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo.
Polêmica. Outra reclamação é que o órgão de proteção ao patrimônio paulistano não foi consultado - a edificação, considerada a única construção colonial do século 18 em São Paulo a preservar elementos, materiais e estruturas originais, é protegida pelos órgãos federal, estadual e municipal de tombamento. Mas o museu pediu autorização apenas ao órgão federal. A Secretaria Municipal da Cultura afirma que os conselheiros do órgão municipal discutirão a questão em reunião agendada para terça.
Os artistas tomaram o cuidado de fazer as pinturas em painéis - em vez de grafitá-las diretamente o muro -, que foram fixados como se fossem quadros. 'Após o projeto, os painéis serão retirados integralmente', explica Paulo Klein, o curador do projeto.

O plano é que a cada dois meses, ao longo deste ano, ocorram intervenções como a grafitagem de anteontem. A próxima já está marcada para 27 de março. 'Haverá espaço também para outras manifestações artísticas, como a fotografia e algumas performances', acrescenta.
No próximo ano, as pinturas circularão por outros museus do Estado, divulgando a iniciativa e, de certa forma, o próprio Museu de Arte Sacra. Depois, as obras serão leiloadas, em benefício de alguma entidade beneficente, ainda não definida. 'Vamos contar tudo em um livro, cuja execução será feita após a captação de patrocínio específico', adianta o curador.
Klein afirma que os resultados positivos começaram a aparecer já no momento em que as obras eram pintadas. 'Na calçada, todos paravam para ver, tiravam fotos com celulares. Ali é uma rua muito democrática, com crianças, pessoas estranhas, bêbados. Tinha de tudo', conta.
Mesmo essa estratégia de popularização do museu não tem aprovação unânime. 'A área envoltória de monumentos deve ser preservada assegurando sua ambientação no espaço urbano', explica Toledo, autor do livro Frei Galvão: Arquiteto, que foi lançado em 2007 e conta a história da construção do Mosteiro da Luz.
As ações de modernização do museu - que funciona em uma ala do Mosteiro da Luz - começaram no segundo semestre do ano passado. O Setor Educativo passou por reformulação e intensificou atividades como oficinas e visitas temáticas. 'Agora pretendemos dialogar com o grafite e com outras manifestações de arte de rua', diz o coordenador do departamento, Rodolfo Yamamoto Neves.
O setor também oferece oficinas - atualmente, de desenho, escultura e arte postal - e um passeio que mostra a evolução urbana de São Paulo por meio das obras do pintor Benedito Calixto. Para participar, basta agendar pelos telefones (11) 5627-5393 ou (11) 5627-1373.