segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Todos os Santos

Antes do texto sobre o dia de todos os santos cabe uma pequena explicação:

Halloween significa "All hallow's eve", palavra que provém do inglês antigo, e que significa "véspera de todos os santos", já que se refere de noite de 31 de outubro, véspera da Festa de Todos os Santos. Entretanto, o antigo costume anglo-saxão lhe roubou seu estrito sentido religioso para celebrar em seu lugar a noite do terror, das bruxas e dos fantasmas. Halloween marca um triste retorno ao antigo paganismo, tendência que se propagou também entre os povos espanos. (...)

Uma cultura de consumo que propícia e aproveita as oportunidades para fazer negócios, sem importar como. Hollywood contribuiu à difusão do Halloween com uma série de filmes nas quais a violência gráfica e os assassinatos criam no espectador um estado mórbido de angústia e ansiedade. Estes filmes são vistos por adultos e crianças, criando nestes últimos, medo e uma idéia errônea da realidade. O Halloween hoje é, sobre tudo, um grande negócio. Máscaras, disfarces, doces, maquiagem e demais artigos necessários são um motor mais que suficiente para que alguns empresários fomentem o "consumo do terror". Busca-se, além disso, favorecer a imitação dos costumes norte-americanos por considerar-se que isto está bem porque este país é “superior”. (...)

Entretanto, para os crentes é a festa de todos os Santos a que verdadeiramente tem relevância e reflete a fé no futuro para quem espera e vivem segundo o Evangelho pregado por Jesus. O respeito aos restos mortais de quem morreu na fé e sua lembrança, inscreve-se na veneração de quem fora "templos do Espírito Santo".


Trechos do texto: http://www.acidigital.com/controversia/halloween.htm#6




Adoração da Santíssima Trindade - Albrecht Dürer.  1511, pintura a óleo, Kunsthistorisches Museum, Viena. 


Somos chamados à Santidade! Essa é a nossa vocação! 
Assim nos atesta São Paulo: “Ele nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade na Sua presença” (Ef 1, 4)
Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Tes 4, 3).

A Igreja convida-nos hoje a pensar naqueles que, como nós, passaram por este mundo lutando com dificuldades e tentações parecidas às nossas, e venceram. É essa a grande multidão que ninguém poderia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, como nos fala São João em Ap 7, 2 -14. Todos estão marcados na fronte, revestidos de túnicas brancas, lavadas no Sangue do Cordeiro (Ap 7, 4). A marca e as vestes são símbolos do Baptismo, que imprime no homem, para sempre, o carácter da pertença a Cristo, e a graça renovada e aumentada pelos sacramentos e pelas boas obras.
     Hoje festejamos e pedimos ajuda à multidão incontável que alcançou o Céu depois de ter passado por este mundo semeando amor e alegria quase sem terem consciência disso; recordamos aqueles que, enquanto estiveram entre nós, se ocuparam talvez num trabalho semelhante ao nosso: empregados de escritório, comerciantes, empregadas domésticas, professores, secretárias, trabalhadores da cidade e do campo… Lutaram com dificuldades parecidas às nossas e tiveram que recomeçar muitas vezes, como nós procuramos fazer.
     Assim, todos nós fomos chamados a alcançar a plenitude do Amor, a luta contra as nossas paixões e tendências desordenadas, a recomeçar sempre que preciso, porque “a santidade não depende do estado – solteiro, casado, viúvo, sacerdote – mas da correspondência pessoal à graça que a todos nos é concedida” (São Josemaria Escrivá). A Igreja recorda-nos que o trabalhador que todas as manhãs empunha a sua ferramenta ou caneta, ou a mãe de família que se ocupa em seus trabalhos domésticos, no lugar que Deus lhes designou, devem santificar-se cumprindo fielmente os seus deveres.
     Neste dia santíssimo, queremos tornar nossa a oração de Santa Teresa, que ela mesma escutará: “Ó almas bem-aventuradas, que tão bem soubestes aproveitar e comprar herança tão deleitosa…! Ajudai-nos, pois estais tão perto da fonte; obtei água para os que aqui perecemos de sede”.

Nós somos ainda a Igreja peregrina que se dirige para o Céu; e, enquanto caminhamos, temos de reunir esse tesouro de boas obras com que um dia nos apresentaremos a Deus. Ouvimos o convite do Senhor: “Se alguém quer vir após Mim…” Todos somos chamados à plenitude da vida em Cristo. O Senhor chama-nos numa ocupação profissional, para que ali o encontremos, realizando as nossas tarefas com perfeição humana e, ao mesmo tempo, com sentido sobrenatural: oferecendo a Deus, vivendo a caridade com os nossos colegas, praticando a mortificação de um trabalho perfeitamente terminado, procurando já aqui na terra o rosto de Deus, a quem um dia veremos face a face.
     “Para amar a Deus e servi-Lo, não é necessário fazer coisas estranhas. Cristo pede a todos os homens, sem excepção, que sejam perfeitos como o seu Pai celestial é perfeito (Mt 5, 8). Para a grande maioria dos homens, ser santo significa santificar o seu trabalho, santificar-se no seu trabalho e santificar os outros com o seu trabalho, e assim encontrar a Deus no caminho da vida” (São Josemaria Escrivá).
     O que fizeram essas mães de família, esses intelectuais ou operários…, para estarem no Céu? Pois bem, procuraram santificar as pequenas realidades diárias! E é isso o que temos de fazer: ganhar o Céu todos os dias com as coisas que temos entre mãos, entre as pessoas que Deus colocou ao nosso lado no caminho para a Pátria Celeste.
     Encontramo-nos a Caminho do Céu e muito necessitados da misericórdia do Senhor! No Céu espera-nos a Virgem Maria, para estender-nos a mão e levar-nos à presença do seu Filho e de tantos seres queridos que ali nos aguardam.

Curso de História da Arte Sacra: pós-graduação lato sensu e aperfeiçoamento na Faculdade Arquidiocesana de Mariana

janeiro/ julho 2012
PRÉ-INSCRIÇÕES ABERTAS

COORDENAÇÃO GERAL
Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira  (Doutora em Arqueologia e História da Arte pela Universidade Católica de Louvain – Bélgica)
 O curso tem por objetivo aprimorar os conhecimentos relativos à arquitetura religiosa cristã e seu patrimônio móvel e integrado, promovendo o crescimento intelectual de pessoas interessadas no tema, bem como a capacitação profissional dos que atuam nas áreas de ensino e pesquisa, órgãos do patrimônio e gestão dos monumentos e seu acervo.

CORPO DOCENTE
Adalgisa Arantes Campos – Doutora em História Social
Antonio Fernando dos Santos – Doutor em Artes Visuais
Pe. Enzo dos Santos – Mestre em História da Igreja
Pe. Geovane Luis da SilvaMestre em Teologia
Josanne Guerra Simões – Mestre em História Social
José Arnaldo de Aguiar Lima – Licenciado em História
Josinéia Godinho – Mestre em Música
Marco Eliseo de Paiva – Mestre em História da Arte
Marcus Tadeu Ribeiro – Doutor em História Social
Myriam Ribeiro de Oliveira – Doutora em História da Arte
Selma Miranda – Doutora em História da Arquitetura

MODALIDADES
Especialização Lato-Sensu – 360 h/a                Aperfeiçoamento – 180 h/a




INVESTIMENTO
10 parcelas de R$ 395, (1ª no ato da matrícula + 9 mensais com vencimento no 5º dia útil) ou parcela única com desconto à vista: R$ 3200,00.

_________________________________________________________________________


Pré-inscrições até 15 de novembro de 2011
Inscrições de 21 de novembro a 15 de dezembro de 2011
VAGAS LIMITADAS

informações
Faculdade Arquidiocesana de Mariana – Dom Luciano Mendes de Almeida
Rod. dos Inconfidentes, km 108, Mariana – MG
(31) 3558-1439   |   fam.mariana@gmail.com    |    famariana.edu.br

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dia Internacional da Animação!


Dia 28 de Outubro é o Dia Internacional da Animação! 
Foi nesta data que, em 1892 que Émile Reynaud realizou a primeira projeção do seu teatro óptico no Museu Grevin, em Paris. Essa projeção foi a primeira exibição pública de imagens animadas (desenhos animados) no mundo. 

Segue algumas animações católicas:

Santa Margarida de Cortona:


Santo Ambrósio:

São Valetim:






E se o Natal fosse hoje? Como seria? Tá aí um bom vídeo:




quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Nossa Senhora do Perpétuo Socorro




Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um título conferido a Maria, mãe de Jesus, representada em um ícone de estilo bizantino. Na Igreja Ortodoxa é conhecida como Mãe de Deus da Paixão, ou ainda, a Virgem da Paixão.
(...)
A tipologia da Mãe de Deus da Paixão está presente no repertório da pintura bizantina desde, no mínimo, o século XII, apesar de rara. No século XV, esta composição que prefigura a paixão de Jesus, é difundida em um grande número de ícones.
Andreas Ritzos, pintor grego do século XV, realizou as mais belas pinturas neste tema. Por esta razão, muitos lhe atribuem este tipo iconográfico. Na verdade a tipologia é bizantina, e quase acadêmica a execução do rígido panejamento das vestes; mas é certamente novo o movimento oposto e assustado do menino, de cujo pé lhe cai a sandália, e ainda a comovente ternura do rosto da mãe.
O ícone é uma variante do tipo hodigítria cuja representação clássica é Maria em posição frontal, num braço ela porta Jesus que abençoa e, com o outro, o aponta para quem, olha para o quadro, aludindo no gesto à frase “é ele o caminho”.
Na representação da Virgem da Paixão, os arcanjos Gabriel e Miguel , na parte superior, de um lado e do outro de Maria, apresentam os instrumentos da paixão. Um dos arcanjos segura a cruz e o outro a lança e a cana com uma esponja na ponta ensopada de vinagre (Jo 19,29).
Ao ver estes instrumentos, o menino se assusta e agarra-se à mãe, enquanto uma sandália lhe cai do pé.
Sobre as figuras no retrato, estão algumas letras gregas. As letras “IC XC” são a abreviatura do nome “Jesus Cristo” e “MP ØY” são a abreviatura de “Mãe de Deus”. As letras que estão abaixo dos arcanjos correspondem à abreviatura de seus nomes.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_do_Perp%C3%A9tuo_Socorro

Assista ao vídeo para conhecer a bela história do Ícone:

Dica

Para quem quiser se aprofundar em Ícones Cristãos:



«Veneramos teu santo ícone, ó Deus de bondade,
implorando o perdão de nossas culpas, ó Cristo Deus!
Que voluntariamente, subiste corporalmente à Cruz
para salvar da escravidão do inimigo os que formaste.
Por isso, dando-te graças, nós te aclamamos:
- 'Trouxeste a todos grande alegria, ó Salvador nosso,
quando vieste para salvar o mundo'»!
(Oração que o sacerdote faz diante do Ícone de Cristo, o Salvador,
antes de iniciar a celebração da Divina Liturgia)





«Ó Mãe de Deus, fonte da misericórdia,
torna-nos dignos de tua compaixão;
volve o teu olhar para nós, o teu povo pecador;
mostra-nos, como sempre, o teu poder.
Depositando em ti a nossa esperança, nós te aclamamos:
Salve! como outrora Gabriel, o príncipe dos Anjos».
(Oração que o sacerdote faz diante do Ícone da Santa Mãe de Deus
antes da Divina Liturgia)

Fonte: http://www.ecclesia.com.br/iconostase/salvador.html




 Santo André e São Bartolomeu

 São Filipe e São João Evangelista

 São Judas Tadeu e São Mateus

 São Matias e São Paulo

 São Pedro e São Tomé

 São Tiago Maior e São Simão

 São Tiago Menor e São Barnabé

Podemos encontrar muitas informações e técnicas nos links na barra lateral. Bom proveito!

domingo, 23 de outubro de 2011

Ícones - Simbolismo das cores e letras


Nossa Senhora com o Menino Jesus, ícone da Rússia.

Como na maioria das representações sacras, a cor no ícone assume uma importância fundamental para expressar a intenção do pintor. O azul é a cor da transcendência, mistério divino. O vermelho, sem dúvida a cor mais viva presente nos ícones, é a cor do humano e do sangue dos mártires. O verde é usado como símbolo da natureza, da fertilidade e da abundância. O marrom simboliza o terrestre, o humilde e pobre.branco é a harmonia, a paz, a cor do divino que representa a luz que se avizinha.e o preto, decepção e tristeza.
Muitos ícones trazem a inscrição ICXC, forma grega abreviada de Cristo. Também Ø O N, significando ‘’aquele que é’’, aparece nas auréolas. Maria é frequentemente identificada com MP OUmadre partena.
A compreensão do significado do ícone pode ser difícil para a ótica da cultura ocidental. Como a pintura impressionista e a arte abstrata, são representações de emoções, de características que não podem ser estabelecidas pelo cânone. Para um artista deste gênero, a luz é uma manifestação divina, não existe o meio tom. Daí a abundancia do dourado: a luz é divina.

Um pouco da História


Após a legalização do cristianismo pelo imperador Constantino e sua posterior adoção como religião oficial do império por Teodósio I, a arte cristã começou a mudar, não somente em qualidade e sofisticação, como também em natureza, pelo fato dos cristãos estarem livres pela primeira vez para exprimir sua fé sem as restrições judaicas dos primeiros tempos ou das religiões pagãs do império, que os perseguiram. Pinturas de mártires e seus feitos começaram a aparecer, e a habilidade de imitar a vida causou efeitos duradouros nos novos senhores da fé imperial. É dessa época a primeira representação mencionada da mãe de Jesus, em cerca de 460, quando a esposa de Teodósio II enviou uma imagem da Mãe de Deus de Jerusalém, supostamente pintada por São Lucas.



Os ícones mais antigos, como os preservados no Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina, são de aparência realista, em contraste com a estilização posterior.


Ícone de São Lucas


Período iconoclasta e posterior restauração

No século VIII, as autoridades do Império Bizantino mudaram totalmente o uso dos ícones, e uma proibição pelo imperador Leão III Isáurio e seu filho Constantino V Coprônimo durou muitos anos, o chamado período iconoclasta, até ser revogada por um concílio e ser restaurado pela Imperatriz Teodora. Restaurou-se e ampliou a veneração.

Não existem muitos representantes da iconografia de Constantinopla, pelas destruições sistemáticas, sejam pelos iconoclastas, pelas cruzadas ou pelos muçulmanos que tomaram a cidade. Mas não restam duvidas que foi a partir do século XII que o culto e a produção de ícones se tornou regra no império, recebendo os melhores e mais ricos materiais e sendo introduzidos nas praticas eclesiásticas. O estilo se tornou severo, hierárquico e distante.

Cristo Pantocrator - Hagia Sophia, Istambul - Cerca de 1185 - mosaico (detalhe)


Após a queda de Constantinopla


Ao fim do Império Bizantino em 1453, fugindo da invasão muçulmana, a tradição das pinturas foi levada para as regiões previamente influenciadas por Constantinopla: Veneza no ocidente, os Bálcãs e a Rússia ao norte e os restos da cultura que falava grego, principalmente Creta no Mediterrâneo.
Em Veneza, onde se fundou uma Escola de São Lucas, um tipo de guilda de pintores de influência bizantina, existem referências a encomendas de pinturas no modelo bizantino, e no restante da Itália, pronta para o apogeu do Renascimento, essa influência foi logo superada por Tiziano, Leonardo, Mantegna e outros mestres que levaram a pintura a outro patamar.
Creta especializou-se na pintura de painéis, facilmente transportáveis, dentro da iconografia da igreja ortodoxa. Desenvolveram habilidade em vários estilos, para agradar a vários patrões, e mantiveram a atividade até ceder aos turcos.
Mas foi com certeza na Rússia que o ícone se tornou um objeto de importância ímpar, venerado em igrejas, mosteiros e residências, que costumavam ter vários ícones numa parede ou canto, chamado ‘’krasny ugol’’. Existe um rico e elaborado simbolismo religioso associado aos ícones. Nas igrejas russas, a nave é separada do sanctus por uma parede de ícones chamada ikonostas.
A confecção e o uso de ícones entrou na Rússia por Kiev, a seguir à sua conversão ao cristianismo ortodoxo em 988. Como regra geral, estes ícones seguem estritos modelos e fórmulas consagrados pelo uso, alguns originados em Constantinopla. Com o passar do tempo, os russos alargaram o vocabulário de tipos e estilos.

Alguns Santos: 

                                                                                                           Santa Anastácia              e              Santo André Apóstolo

                        Santo Atanásio       e       São Bartolomeu Apóstolo


Santa Bárbara


Uma Janela para a Eternidade


Monge pintor de ícones - sec. XVI (Rússia)

ÍCONES – UMA JANELA PARA A ETERNIDADE
Devido ao melhor conhecimento da teologia ortodoxa no Ocidente, especialmente por causa da presença de teólogos e filósofos russos ao exílio no Ocidente a partir da Revolução comunista de 1917, muitos de nós descobrimos o valor espiritual dos ícones para a oração e a contemplação.
Há o risco de separar o ícone da teologia, e ambos, da oração. Se o ícone vira apenas modismo, perde o sentido que lhe deu e dá a Igreja bizantina e a católica. Pavel Evdokimov, um dos grandes teólogos russos refugiados na França, definiu o ícone como “uma janela para eternidade”. Não se olha a janela, mas, pela janela se olha o panorama externo. No caso do ícone, pela fé o ícone nos abre os olhos e o coração para o eterno ali figurado. O ícone é sempre dogmático: suas linhas e cores expressam um conteúdo da fé cristã. O iconógrafo não é livre para pintar os ícones, pois deve obedecer à linguagem da fé explicitada pela Igreja. Como exemplo: as possibilidades de pintar um ícone da Natividade do Senhor são quase infinitas, porém, todas elas necessariamente contém os mesmos traços e cenários. A Verdade é uma, sua expressão é múltipla.
O ícone é palavra visível, pregação da verdade. Os judeus tinham uma mentalidade acústica (ouvi dizer, disseram nossos pais, eu vos digo...). Já os gregos são de mentalidade visiva (contemplar, meditar), donde a importância teológica e espiritual do ícone: eu vejo uma imagem, através dela ingresso no eterno, no divino.
A Palavra se fez carne (Jo 1,14) é o fundamento da arte sacra. A Apóstolo João inicia sua Carta declarando que escreve “o que ouvimos, o que vimos” (1Jo1,1). Com a encarnação, o acústico judeu (ouvimos) se une ao visivo grego (o que vimos). Essa unidade se dá no Cristo homem e Deus: falando, se manifesta como imagem do Pai e, ao mesmo tempo, sua Palavra.
Após a encarnação, toda a criação é apta para expressar o mistério, pois nela está encarnado o Filho de Deus. Toda a matéria utilizada na confecção de um ícone é matéria santa por natureza. O artista, dando-lhe forma, revela um ângulo do mistério da fé. Ele não inventa mistérios, e sim, desenha o conteúdo da fé da Igreja.

O iconógrafo – sacerdote da beleza

O iconógrafo não é um profissional que ganha a vida com ícones. Se isso acontecer, estamos apenas diante de uma obra humana, e não frente a uma obra divina. O iconógrafo pode ser comparado ao sacerdote que celebra a liturgia: “Ensina com as palavras, escreve com as letras, pinta com as cores, em conformidade com a tradição; a pintura é verdadeira como aquilo que está escrito nos livros: ali está presente a graça de Deus, porque o que é representado é santo” (Simeão o Novo Teólogo, Diálogo contra as heresias 23). “O sacerdote nos apresenta o Corpo do Senhor com os ofícios litúrgicos, com a força das palavras. O pintor o faz por meio da imagem” (Podlinnik – manual russo para os pintores de ícones).
Do mesmo modo que o sacerdote se recolhe em oração antes de celebrar os mistérios, o iconógrafo autorizado pela Igreja vive um mês de jejum a pão, água e sal, buscando a purificação interior com a oração e a contemplação do mistério que irá desenhar. A primeira pincelada é de cor branca, simbolizando a Luz que o iluminará e dará resplendor ao ícone. Tradicionalmente, o primeiro ícone é o da Transfiguração do Senhor: assim como o Cristo apareceu em forma luminosa no Monte Tabor, do mesmo modo o artista transfigurará a criatura para que revele a Verdade a ser contemplada.
A Jerusalém Celeste

O ícone um caminho para a Jerusalém celeste

O ícone é um instrumento de ascensão espiritual, pois a transparência do símbolo retorna ao que o contempla tornando-o sempre mais transparência da graça divina. Depois de passar uma vida contemplando os ícones, o orante se transformará, ele mesmo, em ícone da graça: sua face participará da transfiguração, será luminosa, plenamente bela como a harmonia das cores, dos traços, das formas desenhadas.
Graças ao amor, a natureza humana de Jesus está unida à sua natureza divina na pessoa de Cristo. Assim, é o amor que se manifesta na veneração, na oração diante do ícone que faz superar o abismo entre a arte humana e a visão do céu.
O ícone faz nossa oração ser dirigida ao Pai, afirma Evdokimov: passa-se dotypos (imagem) ao protótypos (pessoa pintada) e dele ao archetypos (Deus Pai, origem de todo bem). Contemplando o ícone da Mãe de Deus (typos) me elevo à Mãe de Deus (protótypos) e chego ao Pai, origem de todos os mistérios. É um caminho da Jerusalém terrestre à Jerusalém celeste.
O orante verdadeiro não é um crítico de arte, nem um mestre de palavras: é um homem ou mulher em silêncio diante do ícone, pois o ícone lhe fala, comunica pensamentos celestes e sentimentos transfigurados. Através da contemplação, o ícone lhe é um meio digno de transmissão da revelação divina.
Diante de um ícone, o devoto conserva acesa uma lamparina. A fumaça produzida pela chama com o tempo vai ocultando os traços luminosos do ícone. As preces feitas diante dele também o vão recobrindo de mistério, de graça. Talvez chegue um dia que quase não se verá mais com clareza a imagem icônica, ocultada pelas fumaça da lamparina e da oração de tantos fiéis. Nesse dia não estaremos mais diante de um ícone, mas dentro dele, em união mística com toda a Jerusalém celeste.
Pe. José Artulino Besen

Fonte: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/iconografia/icone-uma-janela-para-a-eternidade.html


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